Típica sessão de free blowing do Exuberance, quarteto cooperativo do saxofonista tenor Louie Belogenis, com o trompetista Roy Campbell, o contrabaixista Hilliard Greene e o baterista Michael Wimberly. “Live at Vision Festival” (Ayler Records) capta a tórrida actuação do quarteto na oitava edição (2003) do festival nova-iorquino, concerto que se seguiu ao do duo de Peter Brötzmann e Milford Graves. Imagine-se a temperatura a que o forno já se deveria encontrar... . O conjunto das quatro peças de composição instantânea – Invocation (15'25), Procession (21'12), Evocation (4'55) e Incandescence (5'41) – espelham a bravura e a actividade electrizante de um grupo solidamente ancorado na energy music dos anos sessenta, ávido por praticar um neo-free que, sumariando todo o léxico do passado, actualiza os propósitos à luz das novas movimentação que, de Los Angeles a Nova Iorque, passando por Chicago, têm vindo a recolocar a improvisação livre de matriz norte-americana no centro das atenções do público e da crítica, por obra e graça da sua transformação e reconfiguração formal e substancial. Vinho velho em vasilha nova ou vinho novo em garrafa antiga, o que conta aqui é a qualidade do nectar. Por isso, ergo o copo e bebo com gosto à saúde destes paladinos do expressionismo no jazz de ontem, hoje e de amanhã. Extremismo radical? Nem por isso. Basta ouvir "Live at Vision Festival" para se perceber que a matéria-prima com que o quarteto trabalha são as emoções, ora suaves e dolentes, ora intensas e ao rubro.
Uma chapelada especial merece Jan Ström, pela oportunidade de dar a conhecer esta música, que, sem a sua militante actividade, provavelmente nunca teria passado para cá das portas do Vision Festival.