Jason Mears, Kris Tiner, Paul Kikuchi e Ivan Jonson, membros do ex-MTKJ Quartet, actual Empty Cage Quartet, parecem surgir do nada; porém, a fervura que levantam e a segurança com que evoluem denotam duas coisas importantes: primo, o facto de tocarem juntos há um bom bocado, o que faz com que os procedimentos internos fluam naturalmente. Qualquer hesitação ou eventual engasgamento resolve-se com os sinais invisíveis (mas perceptíveis) que os músicos trocam entre si, que também servem para “escrever” colectivamente a música em cada momento; secundo, estes californianos ouviram muita música. Deliberadamente incorporam memórias de alguns emblemas marcantes, como os pequenos grupos de Vinny Golia (quartetos e quintetos), mais próximos cronológica e geograficamente, ou o quarteto de Anthony Braxton, na versão com Kenny Wheeler, Dave Holland e Barry Altschul, antes de George Lewis fazer a sua aparição, substituindo o trompetista, e arrasar a assistência em Dortmund, 1976. O grupo de Mears, Tiner, Kikuchi e Jonson increve-se no continuum evolutivo que vem na linha do trabalho das citadas “grandes forças” goliana e braxtoniana, no que elas têm de mais profundo e inventivo, ao mesmo tempo que ensaiam voltas, quebras e mudanças discursivas que pertencem a um mundo comum.
O disco do Empty Cage Quartet é dos que ganha com sucessivas audições. Ao fim de algum tempo o patchwork sonoro ganha vida, adquirindo a rara qualidade de soar simultaneamente a clássico e a moderno.