O
veterano saxofonista sueco Lars-Göran Ulander publicou há pouco tempo um disco muito interessante na Ayler Records. Ouvido o disco, só se pode a gente espantar com o facto de este “Live at Glenn Miller Café”, gravado em duas noites de Agosto, em 2004, ser o primeiro que Ulander, realizador de programas para a Rádio Nacional Sueca, gravou como líder – ele que desde 1963, discretamente, tem vindo a acompanhar músicos suecos, os mais internacionalmente reconhecidos dos quais sejam o pianista Per Henrik Wallin e o percussionista Sven-Åke Johansson, tendo ainda participado numa gravação do Phil Minton Quartet.No caso vertente, o do Glenn Miller Café – clube de Estocolmo que o produtor Jan Ström refere como sendo o seu “number one studio’” – Lars-Göran Ulander, o autodidacta que estudou Arnold Schoenberg e Paul Hindemith, surge à cabeça de um power trio que tem como restantes vértices o extraordinário baterista Paal Nilssen-Love e o “histórico”, mais conhecido por via da alemã ECM, Palle Danielsson, contrabaixista que acompanhou Keith Jarrett, Charles Lloyd e outros grandes nomes. Temos então Lars-Göran Ulander, músico nas horas vagas, totalmente amador, a entender-se na perfeição com os outros parceiros pro, mesmo nunca antes tendo tocado juntos, salvo o curto ensaio de som realizado à boca de cena, para preparar o único tema não totalmente improvisado da sessão.
O desafio a que o trio se propôs foi o de explorar temas de estrutura completamente aberta, entre o free e o modal, se se quiser, conseguindo manter a fervura sempre em lume brando, qualquer que seja o andamento. A música beneficia da assertiva comunicação de Danielsson e Nilssen-Love, que amparando a colocação das camadas de saxofone alto, suporta uma proveitosa conversação a três, inspirada no rasto que nos deixaram Dolphy, Ornette e McLean. E Mingus, cujo “What Love” recebeu um tratamento que, por si só, mereceria a audição do disco, um dos melhores que ouvi este ano. Boa notícia é também que este grupo, ante os resultados artísticos obtidos, resolveu continuar a trabalhar, o que aconteceu em 2005 e prossegue em 2006.