A versão da Variable Geometry Orchestra que actuou sábado, 24 de Junho de 2006, no Teatro Nacional D. Maria II, no âmbito do ciclo "Músicas no Átrio do TNDM II, à Meia-Noite", deu bem a medida da reacção química que se produziu durante os perto de 45 minutos que demorou a exposição de música composta, harmonizada e executada em directo, sob a direcção de Ernesto Rodrigues. Ernesto parametrizou a música através de breves indicações dadas aos executantes sobre tempo, dinâmicas e intensidade requeridas em cada um dos andamentos, desde o início marcado pelo sincopado da baixas frequências da electrónica de Adriana Sá, até à grande massa sonora que explode, estilhaçando em todas as direcções. Free jazz e improvisação orquestral ao serviço da reinvenção do conceito de big band. Catarse colectiva apontada em direcção ao espaço, com os mais diversos apontamentos pelo meio, linhas cruzadas e sucessivas de duos, trios, quartetos, a que se foram adicionando outros instrumentos, num trabalho colectivo de grande envergadura. Nessa medida, é absolutamente fascinante sentir o chão a tremer debaixo dos pés, como se a música irrompesse do centro da Terra e explodisse magnífica diante dos músicos e do público, que enchia por completo a sala. Espaço que chegou a ser exíguo para conter os infindável labirinto de corredores harmónicos, a luxuriante selva de texturas que naturalmente se agrupam em estruturas que são elas próprias momentos de improvisação colectiva de elevado calibre, que abriram espaço para breves intervenções solísticas de Jorge Lampreia (flauta e saxofone soprano), Alípio Carvalho Neto (saxofone tenor) e Sei Miguel (trompete de bolso), a partir das quais o grupo, ouvindo e reagindo às indicações, extrapolou para os mais diversos clusters de associações tímbricas, até tudo se diluir na grande voz – energia assustadora, beleza primitivista e sofisticada na sua complexa simplicidade. Música que transcende os seus próprios limites, montada numa arquitectura sonora que se eleva às alturas, para depois implodir e retomar ao ponto em que se lança a primeira pedra. Vida, liberdade e celebração.
«Um concerto da VGO é um acontecimento cada vez mais intenso, marcante e exultante! Desta vez, foi a segunda coisa mais importante que me sucedeu desde o último concerto da VGO que vi, na Trem Azul (e que tinha sido o primeiro). Já agora, digo que a coisa mais importante que me sucedeu desde então foi o adiamento sucessivo da partida do meu navio, e poder ter estado ontem a ouver um dos maiores acontecimentos em música que alguém poderá presenciar!!! A todo o pessoal OBRIGADO, pela música, bem-estar e satisfação proporcionada!!! E que estas fotos, singela colaboração e agradecimento meus, vos revejam nesse acontecimento enorme! Já posso ir descansado e contentíssimo para a Polónia – e já nem os buracos do navio e os riscos esforçados me atormentarão! Um abraço a todos e VGO Sempre!!!» – Rui Portugal
ernesto rodrigues, violin, viola, direction; guilherme rodrigues, cello; hernâni faustino, double bass; sei miguel, pocket trumpet; eduardo chagas, trombone; miguel bernardo, clarinet; alípio carvalho neto, tenor saxophone; nuno torres, alto saxophone; jorge lampreia, soprano saxophone, flute; rui horta santos, electric guitar; armando pereira, accordeon; adriana sá, electronics; rafael toral, electronics; jorge trindade, tapes; césar burago, percussion; monsieur trinité, percussion; josé oliveira, drums.
Próximo concerto da VGO: 15 de Julho - Bomba Suicida, Bairro Alto, Lisboa.