Como vem sendo habitual desde a sua constituição em finais da década de 90, a formação Lisbon Improvisation Players (LIP), do saxofonista Rodrigo Amado, tem-se apresentado ao vivo com um line-up variado. Comum, até hoje, tem sido a presença do saxofonista e do contrabaixista Pedro Gonçalves, já que quanto a outros sopros e ao lugar da bateria, não tem havido lugares cativos. Porém – e aqui está a primeira virtude –, tal variabilidade não tem constituído óbice a que o LIP tenha logrado preservar assinalável continuidade estética e coerência discursiva, com crescente maturidade.
A estratégica continua a ser a mesma e funciona: tocar de forma aberta, livre e espontânea, sem a pré-definição de composições ou de linhas orientadoras, arriscando tudo no instante imediato. Com esta receita, Rodrigo Amado, exclusivamente em saxofone tenor; Pedro Gonçalves, contrabaixo; e o regressado Acácio Salero, na bateria, tocaram a 5 de Maio na Jazz Store da Trem Azul, no terceiro concerto do festival "Issue 1", que decorre até 13 de Maio, imbuídos num espírito de descoberta e exploração, acentuando, porventura um pouco mais do que é hábito, o lado experimental do trio. Logo a abrir, Amado cantou no saxofone tenor, num solo carregado de espiritualidade gospel com tempero de Joe McPhee na voz. O tom serviu de mote para o resto da actuação, cujo traço dominante foi também a marca d'água do LIP: o grupo improvisa colectivamente, alternando tempo e espaço para solos individuais que outra coisa não são que extensões ou desenvolvimentos das ideias nascidas e postas em ebulição no âmago da refrega estruturada no momento e profudamente assente nas fundações da improvisação.
Pedro Gonçalves, tal como tinha mostrado no concerto do LIP de Setembro de 2005, no festival Forum Music, em Lisboa, é o contrabaixista certo para este tipo de contexto. Nesta acepção, a diferença de Gonçalves relativamente ao comum dos contrabaixistas de jazz é que ele transporta consigo o feel do rock (Dead Combo), possui a noção precisa dos tempos de entrada e de saída, e sobretudo, a respiração que impulsiona o processo criativo e lhe serve às mil maravilhas. Acácio Salero, que também tocou saxofone alto num tema, exuberante no balanço rítmico e na propulsão do seu swing livre, esteve em grande forma. Completo e dotado de rara capacidade de acentuação rítmica e variedade métrica, foi em grande medida responsável pelo resultado final, que se saldou num grande concerto dos Lisbon Improvisation Players. (fotos: Crista)