Alguns factos curriculares dos membros do Ravish Momin's Trio Tarana, pesam a favor do próprio Ravish Momin, percussionista norte-americano de origem indiana, aluno de Andrew Cyrille, de Bob Moses e de uma série de mestres percussionistas indianos; participa no trio de Kalaparusha Maurice McIntyre, tocou com a pianista Ursel Schlicht, com a percussionista Susie Ibarra, etc); de Jason Kao Hwang, violinista e membro da Far East Side Band, do Reggie Workman Ensemble, do Anthony Braxton sextet, e do Dominic Duval’s String Quartet); e de Shanir Ezra Blumenkranz, tocador de oud (alaúde oriental) e contrabaixo, membro do grupo klezmer Satlah, acompanhante de Anthony Coleman e participante do Mr. Bungle, de John Zorn e Trevor Dunn). Três músicos de uma geração actualmente na casa dos 30 anos, e que, nascidos nos EUA de ascendência asiática, procuram um posicionamento estético de "compromisso" entre as diferentes matrizes culturais que lhes são próprias. A música da sessão de abertura do festival Issue 1 da Trem Azul - que se celebra entre 3 e 13 de Maio na Jazz Store da distribuidora discográfica de Lisboa - apresentou-se formatada à semelhança da que se pode ouvir no único disco até à data publicado ("Climbing The Banyan Tree", Clean Feed 2004). Improvisação nascida do desenvolvimento de linhas melódicas subtis, inspiradas nas tradições musicais índias da América do Norte, e do Oriente (chinesa, japonesa, árabe, indiana…), com motivos polirítmicos de tambores que fundem tradição ancestral e modernidade num groove com múltiplos sentidos, sábio no evitar da colagem e do pastiche que contaminam tantas outras formas musicais contemporâneas.
A partir desta proposta de simplicidade acústica, o trio expôs a sua música e improvisou com a fluidez que já se conhecia de "Climbing The Banyan Tree", num discurso para onde convergiram espontaneamente tipos, formas e ideias de um mundo antigo feito de saberes milenares, blues e mantras decantados pelo instante da contemporaneidade e da criação em directo. Dois níveis ligados por um ténue fio de continuidade que lhe advém da espiritualidade comum ao jazz e a formas musicais nascidas a Oriente, renovadas à luz da experiência actual da globalização, que tem na cosmopolita Nova Iorque um importante centro aglutinador e difusor. Pesem embora as virtudes demonstradas ao vivo pelo trio, que além do mais serviram para testar e confirmar em directo a validade e a pertinência da sua proposta musical, uma ligeira mácula concorreu a seu desfavor: numa ou noutra passagem deixou-se perceber algum cansaço e desconcentração, porventura relacionados, facto que, compensado pela capacidade entrega, não deslustrou uma actuação globalmente muito positiva e vibrante de entusiasmo.
O Ravish Momin's Trio Tarana actua hoje (4 de Maio) no Museu Nogueira da Silva, em Braga, e amanhã (5 de Maio) na Casa da Música, Porto.