Frederic Blondy (piano), Jean-Sebastian Mariage (guitarra eléctrica) e Dan Warburton (violino) tocaram e gravaram em Paris "L’Écorce Chante la Forêt" (2001), disco que a Creative Sources Recordings viria a publicar em 2004. Três peças ("l’écorce chante la forêt"; "oort: un jardin doucement ratissé par les pertubations stellaires"; e "sleep, perchance to dream"), desvendam-se em movimentos lowercase entrecortados por breves e mais arrebatados episódios musicais, que se vão esfumando até entrar na pièce de resistence com que encerra esta quase hora de duração. Mais que os temas anteriores, "sleep, perchance to dream" caracteriza-se pelos longos intervalos entre notas ou sons, sequências de texturas de toque suave e acetinado. Estalidos de madeira e metal brotam da percussão das teclas do piano e do afagar das cordas do violino ou da guitarra eléctrica, acções descontínuas com ênfase no som mais que na tonalidade, explorando um mundo subterrâneo de sensualidades microscopicamente perceptíveis. As dinâmicas são em geral extremamente baixas, contudo perceptíveis e relacionáveis entre si, mais pelo gesto que pelo resultado. Música não-narrativa que contudo conta histórias que se adensam à nossa volta, apertando o cerco milimétrico, como cobra que desliza suavemente pela vegetação à procura da presa que, encantada, não consegue mexer-se. A tensão aumenta perto do fim em razão inversa ao volume produzido. O que acentua os traços feldmanianos desta música, cuja audição deve acompanhar o baixo volume da execução para que não se percam os murmúrios de vozes sonhadas.
Frederic Blondy / Jean-Sebastian Mariage / Dan Warburton - L’Écorce Chante la Forêt (cs016)