Quatro composições de Steve Reich (n. 1936) executadas ao vivo com a participação do compositor, na inauguração do Museu da Universidade da Califórnia, em Berkeley, a 7 de Novembro de 1970 – "Four Organs", "My Name Is", "Piano Phase" (para dois pianos sincronizados) e "Phase Patterns". O concerto de Steve Reich & Musicians na UCB foi gravado e emitido via Bay Area FM radio. A emissão, apresentada por Richard Friedman, faz parte do acervo Other Minds Archive.
Da esquerda para a direita: Arthur Murphy, Phillip Glass, Jon Gibson ao centro, em maracas, Steve Chambers e Steve Reich (foto de Richard Landry). "This performance marked an important moment in Bay Area new music history with the triumphant return to the East Bay by Reich who studied at Mills with Berio and performed in 1964 in the world premiere of Terry Riley's "in C" at the San Francisco Tape Music Center".
"The resonant acoustics of the concrete interior museum were especially appropriate for Four Organs, with its long additive sustained chords over a maraca pulse. The capacity crowd occupied every conceivable area of the interior space, including walkway ramps suspended over gallery spaces. An electrifying evening!".
"Interconnexions": nova saída do trio suiço Diatribes (Laurent Peter: laptop, objectos, processamento; Cyril Bondi: bateria e percussão; Gaël Riondel: saxofones alto e tenor, clarinete, flauta) ainda no campo da experimentação e da improvisação livre com influências do jazz e da música electroacústica. Acesso através de descarga gratuita a partir da página da netlabel francesa Stomoxine Records.
"Diatribes voit le jour, sous le nom de d’incise d’où inductions, dans les sous-sols genevois en hiver 2004. L’idée était de mélanger trois sources de son distinctes (vent, percussion et électronique) pour développer une masse sonore malléable. Le saxophone et la batterie se confondent, avec le traitement de leur propre son en live, dans une danse primaire, brute, où construction et destruction coexistent, où envie et dégoût s’unissent. Le partage avec le public est intime et profond. Les rêves et les peurs deviennent bruit et silence.
Rencontre magnétique pour une formation explosant de désir d'une expression totalement libre, privilégiant l'interaction entre ses membres, l'intensité et la fluctuation du niveau d'énergie. Souffles, frémissements, crépitements, roulements, masses, fracas, chaos, entre free jazz et approche électroacoustique.
Rage trop longtemps contenue, sentiment quelque peu désabusé en regard d'une société dont l'avenir nous laisse dubitatif. Imprégnée du contexte urbain de nos vies, la matière sonore se construit, se déforme, s'arrache de l'emprise de la raison, implose et redeviens le rêve qui s'étale derrière nos paupières.".
A Rádio Universitária do Minho anuncia o concerto comemorativo do 17º aniversário do programa "Sójazz", a realizar no Museu Nogueira da Silva, em Braga, no dia 4 de Maio, com o Ravish Momin’s Tarana (EUA). Ravish Momin – percussão e voz; Jason Kao Hwang – violino; e Shanir Ezra Blumenkranz – oud e contrabaixo.
Discos para a minha Prima Vera!
Billy Bang Quartet - Valve no. 10 (Soul Note, 1988) - Querida prima, do violinista que esteve a guerrear no Vietnam, um disco pacifista (Holiday for Flowers!?), surpresas minhas q.b., o baixista Sirone a quem inicialmente tomei por William Parker, devo ter sido enganado pelo Scrapbook (Thirsty Ears), e o Frank Lowe no tenor, que sonoridade! Apesar dos nomes e passados guerreiros, não há batalha no ar, só beleza. A ouvir após o café da manhã, com a janela aberta. Paul Bley - Sankt Gerold (ECM, 1996) - Cuidado prima, são variações austeras e austríacas de uma formação que joga há muito tempo (+Evan Parker+Barre Phillips) um jazz fora! de série. Um perfeito ECM ou o ECM perfeito?
Mat Maneri - Sustain (Thirsty Ear, 2002) - A prima Vera gosta tanto dos violinos que até espanta. O Maneri faz-lhe a vontade e toca vários deles, com uns tipos simpáticos, McPhee, W Parker, Taborn. A inSustaintável beleza do ouvir, à noitinha e em silêncio.
Bill Charlap - Written in the Stars (Blue Note, 2000) - Com quantas estrelas se escreve uma obra, prima? Não sei quantas, mas não chegam para este disco. A ouvir "pela calada da noite/in the still of the night", em viatura convertível mas acompanhada, porque a sós é perda, no entanto cuidado porque em Abriles, águas Miles.
William Parker - O'Neal's Porch (AUM, 2002) - A prima e o W. Parker foi paixão à primeira ouvista. Não passa ela sentadinha no alpendre, sem ouvir estes quatro tocando um jazz avançado. Um futuro clássico, para o fim de tarde.
Bernardo Sassetti - Ascent (Clean Feed, 2005) - Só para ateus e agnósticos convictos. Depois deste, irão todos pedir para ser baptizados, pois só esses entram no reino dos jazzes. Que obra, prima!
Peter Brötzmann - Never Too Late... Always Too Early (Eremite, 2003) - Ai, mas este não é o senhor das metralhadoras (Machine Gun-FMP)? Ouve lá prima, que nunca é tarde. De ouvidos e janelas escancaradas, e empurra o botão que diz Vol prá direita. Kurt Elling - Flirting with Twilight (Blue Note, 2001) - O Rei está morto (Sinatra), viva o Rei (Elling). Não se pense que é um continuador/imitador, é antes um digno sucessor do maior singer/crooner de sempre. Ó prima, porque é que ninguém fala deste moço?
Anthony Braxton - Six Monk´s Compositions (Black Saint, 1987) - Escrevo-te prima, porque sei que andas com saudades do Monk e com falta de dinheiro pra comprar a tri obra, também ela pri
ma do Schlippenbach (
Monk's Casino - Intakt, 2005). Não te arrependes, ainda por cima com o Waldron e o Neidlinger, swinga que é uma beleza.
Flanger - Spirituals (Nonplace, 2005) - Ah, mas isto não é jazz! Ó prima, até parece que tens que andar sempre a ouvir essa música p'ra intelectuais...
João Henriques
Jeff Kaiser, trompetista norte-americano, chama a atenção para o facto de que, sendo raro a música improvisada aparecer anunciada em néon, tal ter acontecido com esta actuação do duo The Choir Boys (com Andrew Pask em saxofones, clarinetes e electrónicas) num ciclo de concertos na Ventura College, aumentado com a participação de G.E. Stinson (guitarra e electrónica) e Steuart Liebig (contrabaixo e electrónica). De meninos do coro é que estes quatro nada têm, sabidos que são nas artes da improvisação musical, dentro e fora do jazz. Há um investimento muito forte na exploração conjunta das vias acústica e electrónica em tempo real, cruzadas, sobrepostas, paralelas e em todas as demais combinações de que esta orquestra electroacústica é capaz. A música, subtil e orgânica, progride com sentido de drama por caminhos já cartografados, mas que ainda reservam algumas boas surpresas ao ouvinte.
The Choir Boys - The Choir Boys with Strings (pfMENTUM)
Desde 1995 que a austríaca Durian Records, de Viena, edita música escrita e improvisada que se inscreve nas áreas mistas da new music e do free jazz. Werner Dafeldecker, compositor e multi-instrumentista electroacústico vienense, dirige a casa de discos, publica o seu próprio trabalho e abre portas a artistas dos mais interessantes que há naquele universo.
É o caso de The Comforts of Madness, trio que, nesta versão, compreende Helge Hinteregger (saxofones e samplers), Uchihashi Kazuhisa, que trabalhou com os grupos Ground Zero e Altered States (guitarra e electrónica), e o veterano percussionista britânico Roger Turner, e se dedica com afinco à prática de linguagens não-idiomáticas afins da escola britânica de improvisação livre – como ramificações do Spontaneous Music Ensemble, de John Stevens, ou da Company, por extenso, Music Improvisation Company, de Derek Bailey –, com a electrónica gerida de modo a criar, conjuntamente com a percussão, ângulos, cumes, depressões cavadas e as mais amplas variações dinâmicas. «I went inside me and closed the door gently behind me. It was time to abstract myself from the world», é o mote para esta hora seguida de improvisação, de tema único – "Autism". Gravação de 1997, publicada em 1999.
Tony Schwartz, media pioneer, audio documentarian.
Patience and reserve: two manifestations of self-control. Solitary figures await their joint moment, let it come, don't rush it, don't drown it in small-talk. Then when the time is right grab a hold and don't let it get away. Discipline has been your watchword. You've waited, and when you eat that 2000-year-old egg, it will be utterly scrumptious. For Zerang, Kessler, Brötzmann and McPhee, now's the time: peel back the rind, pop the cork, eat the egg. — John Corbett (hatOLOGY)
Ravish Momin's Trio Tarana
Lost Gorbachevs
L.I.P (Lisbon Improvisation Players)
Double Bind Quartet
Alípio C. Neto DIGGIN'
V.G.O. (Variable Geometry Orchestra)
Variable Geometry Orchestra
Num interessante artigo publicado no seu Greenleaf Music Blog, Dave Douglas discorre sobre as gravações de 1970 de Miles Davis, realizadas num clube de Washington DC, o Cellar Door, recentemente editadas pela Columbia na caixa de 6 CD, "The Cellar Door Sessions". Douglas aborda questões relacionadas com a progressão gradual do quinteto acústico de inícios de 60 para a chamada “fase eléctrica”; rebate a ideia que por vezes se quer fazer passar, segundo a qual Miles, enquanto executante, seria um trompetista menor e tecnicamente limitado. «PLEASE listen to this recording and then refrain from saying Miles had bad trumpet technique. Ever again. OK?». Douglas fala da fluência, do impecável timing do ataque de Miles; do contributo do trompetista para a moderna linguagem do trompete; do papel do produtor Teo Macero, tantas vezes criticado e condenado por alegadamente interferir demasiado na música, quer no som, quer nas opções quanto ao material a incluir ou a deixar de fora das edições discográficas. Macero, como Dave Douglas bem assinala, teve realmente um papel ingrato, na media em que trabalhava sobre música que era novidade para a época, e relativamente à qual era difícil destrinçar as peças ou segmentos excepcionais, das de menor valia, para efeito de as incluir ou não em disco.
Foi o caso da selecção de material para "Live Evil", em parte retirado das sessões de Washington, as mesmas que agora, e na íntegra, constituem as "Cellar Door Sessions" e dão uma imagem nítida do que era a música de Miles em 1970. Diferente da de 1969, de 1971, e assim sucessivamente. «But to me this work stands the test of time because it sounds inevitable. It sounds like a logical progression from the music that came before it, it sounds like a brilliant solution to a series of questions, it sounds as fresh and ingenious as the day it was made. It still excites with the freshness of discovery. What more should it have to do for us?».
Na última edição da revista online NewMusicBox, entrevista com Paul Austerlitz, etnomusicólogo, músico e investigador, autor de "Jazz Consciousness: Music, Race, and Humanity". Um olhar informado sobre o que se passa hoje no mundo da improvisação, que transcende em muito as fronteiras do afro-americanas do jazz, tendo, com o tempo, passado a abraçar toda a Humanidade, nas suas mais diversas formas.
Mauricio Kagel, Acustica (1968 - 70)
for experimental sound-producers and loudspeakers
(Deutsche Grammophon 2707 059)
Kölner Ensemble für Neue Musik: Christoph Caskel, Karlheinz Böttner, Edward H. Tarr, Wilhelm Bruck, Vinko Globokar. - Recorded Studio Rhenus, Godof Bei Köln (28. - 31. 1. 1971)
«Acustica is perhaps the most refined example of Kagel's work within his invented genre of 'instrumental theatre'. The score notes that 'the piece calls for unorthodox musicians who are prepared to extend the frontiers of their craft' since few of the 'experimental sound devices' specified are conventional instruments and where conventional instruments are included they are to be played in extraordinary ways. Each instrumental action is, however, meticulously notated and the creation and/or modification of instruments are also shown in diagrams and photographs. What the score does not specify is the order in which the individual instrumental events are to be played; Kagel suggests instead that each performer should select the events that they want to perform and then discover in rehearsal how best to order them in combination both with the pre-recorded material and with the sounds of the other players. If the result owes obvious debts both to John Cage and to the theatre of the absurd, its subversive critique of received ideas on what constitutes music and musical instruments is above all typical of Kagel, contemporary master of irony». (Christopher Fox)
25 de AbrilEsta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempoSofia de Mello Breyner
Em 2004, Ernesto Rodrigues (viola, violino), Michael Thieke (clarinetes), Guilherme Rodrigues (violoncelo, pocket trumpet) e Carlos Santos (electrónica) gravaram KREIS (Creative Sources 020), trabalho aturado sobre as propriedades físicas do som, com atenção totalmente voltada para a textura em detrimento da tonalidade. Há aqui imensa actividade, só que muito à flor da pele, sem levantar ondas nem tumultos. Tudo se passa para além do tempo e do silêncio, quando o espaço passa também a assumir um papel de maior relevo. KREIS, título da obra, remete para representação espacial sob a forma de círculo, e a denominação dos temas toma diferentes graduações desse círculo), permitindo a escuta atenta referenciar a exigente gestão espácio-temporal que o quarteto realiza e que imprime à música uma respiração própria, suave e descompassada. E é ouvir sons de baixa amplitude e intensidade (salvo um caso ou outro, quando irrompe um silvo de clarinete de Thieke, acompanhado pelas cordas, no tema 4 – “112º23’”) a harmonizarem-se num prolongado e multiforme restolhar, graças sobretudo ao cuidado posto no acto de ouvir – palavra-chave destas e doutras estéticas afins. Postura que os músicos privilegiam sobre a actividade de produção sonora, interagindo entre si e com o estúdio de gravação (microfones e mistura são fundamentais) num lowercase de primeira qualidade e efeito volátil. KREIS bebe na fonte de Berlim, mas também é certo que a insect music britânica, numa versão eventualmente mais esparsa, actualizada e tributária da electroacústica (e da manipulação electrónica), tem qualquer coisa a ver com isto que aqui se passa. Bem merece repetidas e atentas audições, única forma de apreender tudo quanto o círculo encerra em matéria de som, silêncio e das subtilezas que lhes dão vida.
UBU WEB: SOUND
Extended Voices Farfa F'loom Öyvind Fahlström Morton Feldman Luc Ferrari Fluxus 30th Anniversary Box Fluxus Anthology Fluxus Anthology 2006 Flux Tellus Fluxsweet Henry Flynt DJ Food Richard Foreman Terry Fox Furious Pig Fylkingen Anthology Kenneth Gaburo Gabo + Pevsner Drew Gardner Xavier Gautier Jean Genet Alberto Giacometti John Giorno Allen Ginsberg Philip Glass Glass / Summers Jean-Luc Godard Jack Goldstein Glenn Gould Dan Graham Group Ongaku David Grubbs Pierre Guyotat Brion Gysin Al Hansen Sten Hanson Happy New Ear Raoul Hausmann Tim Hawkinson Kevin Hehir Bernard Heidsieck Dick Higgins Åke Hodell Abbie Hoffman Bob Holman Joël Hubaut Richard Hulsenback Herbert Huncke Il concento prosodico Eugène Ionesco Isidore Isou Mick Jagger Ernst Jandl Bengt Emil Johnson Joe Jones James Joyce Mauricio Kagel Robin Kahn Vasilij Kamenskij On Kawara Mike Kelley Jack Kerouac Kipper Kids Klaus Kinski Yves Klein Ferdinand Kriwet Aleksej Krucenych Kuemmerling Trio Joan La Barbara Ilmar Laaban Jacques Lacan Lasry-Baschet Maurice Lemaître Wyndham Lewis Arrigo Lora-Totino John Lennon Sébastien Lespinasse Lauren Lesko Linnunlaulupuu Live To Air - Artists Soundworks Anna Lockwoood Christopher Logue Gherasim Luca Alvin Lucier Jackson Mac Low Angus MacLise Vladimir Maïakovski Hansjorg Mayer Pejk Malinovski F.T. Marinetti Paul McCarthy Jennifer & Kevin McCoy Marshall McLuhan Taylor Mead Jelle Meander Paul D. Miller aka DJ Spooky Christof Migone Henry Miller Enzo Minarelli Phil Minton ...
INTERPLAY ! BERLIN
Free Jazz & Improvisation in Film - Kunst - Konzert - Workshops
2 a 5 de Junho de 2006
Akademie der Künste
Hanseatenweg 10
10557 Berlin
A Pax Recordings anuncia que, a partir de 26 de Abril, Stephen Flinn realiza uma digressão que irá atravessar os EUA, de S. Francisco a Nova Iorque. O percussionista apresentará 22 concertos de percussão solo, à excepção de duas datas em Brooklyn, que contarão com a colaboração de Michael Evans e Bruce Tovsky, e outra com o pianista Kevin Uhlingher, respectivamente.
O grupo com que o saxofonista Peter Bastien se apresentou ontem ao fim da tarde na Jazz Store da Trem Azul (& CO - SKY IS THE LIMIT) revelou uma série de sinais identitários de um jazz com vocação universalista, que encontra múltiplas referências na música improvisada de raiz afro-americana e em diversas das suas projecções europeias. No programa, cinco composições das quais três originais de Bastien, uma de Joe McPhee cujo título não recordo, e o clássico Nature Boy, de Eden Ahbez, composição que serviu ao saxofonista para arrancar o mais quente e emotivo dos solos, o melhor da noite em que esteve bem apoiado por Ricardo Pinto (trompete), Eduardo Lála (trombone), José Mueleputo (guitarra eléctrica) e Miguel Trovoada (percussão).
Por ali passou um espírito marcadamente seventies actualizado e reformulado, com interessantes reverberações de escolas como a do AACM de Chicago, congéneres das que se podem encontrar na música de Kahil El'Zabar, do Ritual Trio ou de Ernest Dawkins, mas também da Nova Iorque de Charles Gayle ou Arthur Doyle. Esta última impressão advém em muito do som cru, ao mesmo tempo doce e agreste do tenor de Peter Bastien, que se revelou um líder no saber dirigir e dar espaço aos outros elementos para a improvisação colectiva e individual.
Trompete e trombone tiveram bons momentos de comunicação, trocaram mensagens em duo e solaram timidamente, com conta, peso e medida. A guitarra, perfeita como esteio harmónico, esteve discreta, tal como a percussão suave de Trovoada, como convinha ao desenho musical de Bastien, que também tocou percussões, disse textos poéticos - um músico a merecer maior reconhecimento por parte do público.
Saldou-se a prestação num concerto muito agradável. Pena seria que este grupo, que teve no concerto da Trem Azul a sua terceira actuação, não pudesse permanecer estável e coeso, de maneira a fluidificar processos e limar algumas arestas, sem comprometer o lado imperfeito de obra inacabada que lhe fica muito bem.
Esperei até me certificar se o Nuno Catarino iria em definitivo pôr o blog no off, ou se o interregno era apenas sabático ou reflexivo. Decorreram alguns dias e agora estou (estou?) seguro de que foi mesmo o fim, The End, como está epigrafado. Nada, nem mesmo o apelo lancinante deste confrade o fez convencer. Passou definitivamente à Reforma do Jazz (esta era fácil, eu sei, mas não resisti). O que é pena, porque faz falta a leitura diária d’A Forma do Jazz, na sua visão heterodoxa, sensível e informada, do jazz multipolar dos dias que correm, e do outro de antanho, gosto que partilhamos, como partilhamos a mesma aversão à cópia ou mimética do antigo, pechisbeque de feira que passa por ser jazz com interesse. Fecha-se uma porta, abre-se uma janela: o Nuno Catarino passou a pertencer ao corpo redactorial da JAZZ.pt, o que, pessoal e “institucionalmente”, me agrada sobremaneira. Os leitores d’A Forma do Jazz só têm que passar a ler o Catarino em cada novo número da revista. Não é um blogue, certo, mas nada é perfeito. A propósito: a caminho, insinuante, vem o #6, recheado de assuntos estaladiços e renovados motivos de aplauso, escárnio e maldizer. Está, nesta fase, em adiantado estado de composição. Ah, e o Jazz e Arredores tem sempre a porta aberta para alojar os teus escritos, Catarino, à falta de pior. Agradeço sempre a ajuda técnica para mexer os botões do Blogger. Se hoje me parecem amanteigados, ao princípio tiravam-me a paciência ao ponto que me iam custando um monitor novo...
"The Shape of Jazz to Come", Ornette Coleman (Atlantic).
Bem-vindo a bordo, Cat!
"What Does Your Soul Look Like?"
ZDB, sábado, 22 de Abril, às 23h00
Modern_Beat_Sessions
Jan Jelinek (DE) // Braço (PT)
Jan Jelinek apresenta «Kosmischer Pitch» c/ Andrew Pekler e Hanno Leichtmann
Começando a publicar a sua música em Berlim através dos pseudónimos Gramm e Forss, Jan Jelinek rapidamente se estabeleceu como um dos visionários do techno da viragem do milénio. Trabalhando o dub e um jazz fractalizado miscigenado desde as entradas em techno, andava por vanguardas urbanas algures entre Sutekh ou Pole.
É curioso notar que praticamente na mesma altura em que Jelinek lançava o seu primeiro 12”, os To Rococo Rot lançavam um álbum, «The Amateur View», que é possivelmente o mais directo antecessor de «Kosmischer Pitch», disco lançado em 2005 que Jelinek vem nesta ocasião apresentar à ZDB em trio, ladeado por Andrew Pekler e Hanno Leichtmann. Visto por muitos como um dos mais conseguidos álbuns de «kraut» moderno na acepção mais ampla do género, «The Amateur View», tal como «Kosmischer Pitch», destilava para formas contemporâneas os ensinamentos dos Cluster de «Zuckerzeit», uma metronomia dos Neu em versão câmera lenta, e um trabalho baseado em samples e electrónicas analógicas cujo cunho era só seu.
Em «Kösmischer Pitch» Jelinek leva ainda mais longe o trabalho que já tinha iniciado com os australianos Triosk, editado pela Leaf e pela ~scape. Que poucos ou nenhuns trabalham o sampler como ele é já dado quase adquirido por todos os que alguma vez o escutaram com atenção. O que já conseguiu desenvolver criativamente nesta fase da sua carreira, contudo, leva-o para territórios onde a mistura profunda entre o electrónico, o digital, o analógico, o eléctrico e o acústico roça totalidades inauditas. Encontramos a «kosmische music» alemã, os clicks’n’cuts, reverberações distantes do jazz num vibrafone que pode ter pertencido a Milt Jackson, um balanço e pulso de um Jaki Liebezeit de 2ª geração, ou um loop partido por Markus Popp. Nada é sobreposto e vertical; tudo é entretecido.
Para vários já aclamado como um dos discos da sua vida, «Kosmischer Pitch» mostra-nos Jan Jelinek em contínuo e superior estado de graça. Apresentação ao vivo na altura certa.
Braço
Projecto de Afonso Simões (Phoebus, Fish & Sheep) e Pedro Gomes (CAVEIRA), os Braço utilizam uma panóplia de objectos recontextualizados e instrumentos, das mais variadas percussões, a sopros ou a um «steel drum». Principalmente focados na exploração e desconstrução de pecurssão polirrítmica partilhada, muito do seu som é amplificado por microfones e processado por pedais de efeitos.
O resultado final é totalmente improvisado, seco e angular, remontando a alguns ecos dos primeiros discos da No-Neck Blues Band, e aos momentos mais fragmentados de bandas como os This Heat, Skaters, Dead C ou Swell Maps. Dissertações compenetradas e descomprometidas em som, numa colaboração que remonta, nas mais variadas plataformas, há mais de sete anos.
Thèse de doctorat en Intelligence Artificielle. Vincent LESBROS
’05 compositions - Kenneth Kirschner - «Composicións que xa foran publicadas nunha versión anterior na páxina web do autor, nas datas que aparecen no nome das composicións. O compositor neoyorkino Kenneth Kirschner, mantén unha especie de diario de creación, donde vai poñendo as composicións que vai facendo. Introducindoas cunha clasificación extrictamente temporal e cronolóxica. Desa liña temporal, extraémolas catro composicións para esta publicación, das que logo faría estas versións, en exclusiva para todos nos».
- Imaxe Xesús Valle (alg-a netlabel)