Num interessante artigo publicado no seu Greenleaf Music Blog, Dave Douglas discorre sobre as gravações de 1970 de Miles Davis, realizadas num clube de Washington DC, o Cellar Door, recentemente editadas pela Columbia na caixa de 6 CD, "The Cellar Door Sessions". Douglas aborda questões relacionadas com a progressão gradual do quinteto acústico de inícios de 60 para a chamada “fase eléctrica”; rebate a ideia que por vezes se quer fazer passar, segundo a qual Miles, enquanto executante, seria um trompetista menor e tecnicamente limitado. «PLEASE listen to this recording and then refrain from saying Miles had bad trumpet technique. Ever again. OK?». Douglas fala da fluência, do impecável timing do ataque de Miles; do contributo do trompetista para a moderna linguagem do trompete; do papel do produtor Teo Macero, tantas vezes criticado e condenado por alegadamente interferir demasiado na música, quer no som, quer nas opções quanto ao material a incluir ou a deixar de fora das edições discográficas. Macero, como Dave Douglas bem assinala, teve realmente um papel ingrato, na media em que trabalhava sobre música que era novidade para a época, e relativamente à qual era difícil destrinçar as peças ou segmentos excepcionais, das de menor valia, para efeito de as incluir ou não em disco.
Foi o caso da selecção de material para "Live Evil", em parte retirado das sessões de Washington, as mesmas que agora, e na íntegra, constituem as "Cellar Door Sessions" e dão uma imagem nítida do que era a música de Miles em 1970. Diferente da de 1969, de 1971, e assim sucessivamente. «But to me this work stands the test of time because it sounds inevitable. It sounds like a logical progression from the music that came before it, it sounds like a brilliant solution to a series of questions, it sounds as fresh and ingenious as the day it was made. It still excites with the freshness of discovery. What more should it have to do for us?».