O grupo com que o saxofonista Peter Bastien se apresentou ontem ao fim da tarde na Jazz Store da Trem Azul (& CO - SKY IS THE LIMIT) revelou uma série de sinais identitários de um jazz com vocação universalista, que encontra múltiplas referências na música improvisada de raiz afro-americana e em diversas das suas projecções europeias. No programa, cinco composições das quais três originais de Bastien, uma de Joe McPhee cujo título não recordo, e o clássico Nature Boy, de Eden Ahbez, composição que serviu ao saxofonista para arrancar o mais quente e emotivo dos solos, o melhor da noite em que esteve bem apoiado por Ricardo Pinto (trompete), Eduardo Lála (trombone), José Mueleputo (guitarra eléctrica) e Miguel Trovoada (percussão).
Por ali passou um espírito marcadamente seventies actualizado e reformulado, com interessantes reverberações de escolas como a do AACM de Chicago, congéneres das que se podem encontrar na música de Kahil El'Zabar, do Ritual Trio ou de Ernest Dawkins, mas também da Nova Iorque de Charles Gayle ou Arthur Doyle. Esta última impressão advém em muito do som cru, ao mesmo tempo doce e agreste do tenor de Peter Bastien, que se revelou um líder no saber dirigir e dar espaço aos outros elementos para a improvisação colectiva e individual.
Trompete e trombone tiveram bons momentos de comunicação, trocaram mensagens em duo e solaram timidamente, com conta, peso e medida. A guitarra, perfeita como esteio harmónico, esteve discreta, tal como a percussão suave de Trovoada, como convinha ao desenho musical de Bastien, que também tocou percussões, disse textos poéticos - um músico a merecer maior reconhecimento por parte do público.
Saldou-se a prestação num concerto muito agradável. Pena seria que este grupo, que teve no concerto da Trem Azul a sua terceira actuação, não pudesse permanecer estável e coeso, de maneira a fluidificar processos e limar algumas arestas, sem comprometer o lado imperfeito de obra inacabada que lhe fica muito bem.