Em 2003 deu-se o desejado regresso de Ivo Perelman aos discos, ele que tinha anunciado que se iria afastar da música para se dedicar a tempo inteiro à pintura, reproduzida no interior do folheto do disco, à razão de um quadro por cada peça da suite em 7 partes. E em que forma voltou o saxofonista brasileiro há mais de 20 anos a viver em Nova Iorque! O som de Perelman não perdeu um grama de peso. E parece ter ganho em bravura, pulmão, velocidade e expressividade, na exploração de movimentos e nuances de raiva e doçura, revoadas de cores, formas e texturas, como no acrílico sobre tela. Dir-se-ia que a plasticidade do som de Perelman é o correlativo da sua pintura.
Para Suite for Helen F. (Boxholder Records, 2003), que homenageia a pintora expressionista abstracta norte-americana Helen Frankenthaler, Perelman adoptou o formato de double trio, com os bateristas Gerry Hemingway e Jay Rosen, e os contrabaixistas Mark Dresser e Dominic Duval, repartidos por ambos os canais aos pares, Duval-Rosen (os homens do Trio X, de Joe McPhee) à esquerda, e Dresser-Hemingway (dupla rítmica de Anthony Braxton, no quarteto com a pianista Marilyn Crispell), à direita, embora não seja fácil perceber quem toca em cada um dos lados. Um disco colossal e tormentoso, como seria de esperar. A evitar por quem só se satisfaça com as assobiáveis melodias de sempre.