1, 2, 3 discos do trio Cosmosamatics, o nome colectivo que alberga de há uns anos a esta parte a dupla de grandes improvisadores, Michael Marcus e Sonny Simmons. Este último, o veterano acompanhante de Prince Lasha e Eric Dolphy, mas também de John Coltrane, Sonny Rollins, Don Cherry e Sun Ra, nos idos de 60. Esteve uns anos afastado das lides, mas entretanto recobrou fôlego para uma fulgurante segunda parte de carreira, que prossegue com surpreendente leveza ainda hoje, aos 73 anos. Three (Boxholder Records, 2004) é título de disco e simboliza a reconfiguração do grupo, outrora um quarteto com William Parker, no primeiro disco, e Curtis Lundy, no segundo. Além destes, têm ocupado o lugar do contrabaixista Dominic Duval, Chris Sullivan, Tarus Mateen, Gildas Scourarnec, Emil Ram e Masa Kamaguchi. Na bateria, o mesmo de sempre, Jay Rosen, bem conhecido de quem acompanha as edições da CIMP, espécie de baterista da casa, tantos foram e continuam a ser os projectos em que se emprega. Por falar em CIMP, este formato foi já explorado com grande sucesso estético e emocional por Simmons e Marcus, em 1996, estava a editora a dar os primeiros passos e o baterista, em vez de Rosen, era Charles Moffett. O trio de então gravou Transcendence e Judgement Day, os extraordinários primeiros CIMP's que ouvi. O disco divide-se em duas partes: os primeiros quatro temas foram gravados num estúdio de Nova Iorque; os quatro seguintes, ao vivo no Bimhuis de Amsterdão. No geral, percorrem-se vários estilos, desde derivados do blues e do funk, ao free moderado que constituiu a marca principal de Transcendece e de Judgement Day. Destaque? Talvez a leitura personalizada em saxofone alto solo de Round Midnight, de Thelonious Monk, que fica na memória pela capacidade de reinvenção de um dos standards mais tocados do jazz. É também por isso que Three, longe de ser um disco indispensável, não deve ser dispensado por quem gosta de jazz autêntico e genuíno.