Hoje, 4 de Outubro, é dia de ASCENT na Culturgest. Apresentação ao vivo do novo disco de Bernardo Sassetti.
Piano, Bernardo Sassetti; violoncelo, Adja Zupancic; vibrafone, Jean-François Lezé; contrabaixo, Carlos Barretto; bateria, Alexandre Frazão.
«Ascent é o título do meu mais recente trabalho de exploração da composição e interpretação musicais em comunhão com as artes visuais, nomeadamente a fotografia e o cinema. Este último, por exemplo, tem-me acompanhado desde o princípio dos anos 80, sobretudo no interesse que tenho pela relação das imagens com a música, ou melhor, na representação psicológica, emocional ou circunstancial, que nos é transmitida pela banda sonora - complemento fundamental da imagética do cinema.
(...) O Carlos Barretto tem uma forma única de tocar contrabaixo, muito irrequieto e sempre à procura do possível e também do improvável, sem nunca perder a consciência do tempo e do espaço no grupo; num registo que percorre todo o instrumento, desde o acompanhamento (em notas simples) até à execução dos improvisos mais irreverentes, admiro-lhe a espontaneidade e a agitação das suas linhas e dos seus movimentos harmónicos; estes são, por si só, um estímulo para qualquer solista que o acompanhe, seja qual for a formação. Gosto especialmente quando ele diz “esta parte podia ser mais astrológica!”.
O Alexandre Frazão é também, para mim, um músico de referência. Basta-me não dizer nada para que ele perceba tudo, sem nunca dar a entender que percebeu, sem dizer coisa nenhuma e nada fazer para que eu perceba. Perceberam? Para além de ser a imagem do prazer de tocar, tem um conhecimento muito vasto sobre as diferentes linguagens e ritmos da música de expressão étnica ou tradicional, dos vários continentes; gosta de ensaiar - o que é uma vantagem nos dias que correm! - e consegue transformar os temas que lhe apresento em desafi os artísticos, sem nunca recorrer a ritmos ou acompanhamentos vulgares. Quando toco com o Alexandre, os conceitos de energia, força e subtileza, ganham mais sentido pelo entendimento musical que possui e, tão ou mais importante, pela forma versátil como ouve (e segue) a música que o rodeia.
Para este projecto, contamos com a participação especial de Ajda Zupancic e Jean-François Lezé, de forma a criar um novo trio de violoncelo, vibrafone e piano - este último como elemento de união entre os dois trios.
Conheci a Ajda Zupancic numa altura em que as composições para orquestra se tornaram mais regulares, nomeadamente as bandas sonoras para cinema com a orquestra Sinfonietta de Lisboa. Sempre ouvi o seu violoncelo como uma voz (quase) defi nitiva, um exemplo de expressividade e entrega musicais, tanto a solo como em grupo. O controlo que tem no movimento do arco é, entre outras, a característica que mais lhe admiro. Não posso deixar de referir a preocupação que tem com o resultado final do grupo, o que a levou, ironicamente, a dizer-me assim um dia: “Esta passagem está mal escrita para violoncelo! Ai, ai, estes rapazes do jazz!”.
O Jean-François é um músico versátil no campo da percussão orquestral. Trabalhámos juntos pela primeira vez numa composição arriscada mas que me trouxe um enorme entusiasmo: Música para Piano, Marimba e Tuba. Desde logo percebi que ele se movimentava em vários estilos de música com naturalidade. O vibrafone em Ascent não é utilizado como instrumento melódico nem com presença impositiva, mas sim como elemento que surge em função das ressonâncias do piano ou como continuação delas. Isto é conseguido graças à sua subtileza e silêncio necessários - coisa de quem percebeu a música que tem nas mãos». - Bernardo Sassetti