Teatro Académico Gil Vicente e Salão Brasil, Coimbra, 3 - 5 de Novembro de 2005
Romano/Sclavis/Texier
Aldo Romano - bateria
Louis Sclavis - saxofone soprano e clarinete
Henri Texier - contrabaixo
Aldo Romano, Louis Sclavis e Henri Texier, consensualmente, são três das importantes personalidades do jazz francês actual. O trio, enquanto tal, data dos inícios da década de 90, altura em que empreendeu uma viagem à África Central, acompanhando o fotógrafo Guy Le Querrec. Jornada que deu origem a Carnet de Routes (Label Bleu), registo musical das experiências vividas, maravilhoso livro de viagens que este ano celebra 10 anos de edição.
Ao longo do tempo, vários discos e muitos concertos depois, a música de Romano/Sclavis/Texier atingiu um nível de excelência e de perfeição técnica absolutamente fora do comum, quer se aborde a música na perspectiva do individuo, quer se tome o colectivo como referência. Para tal contribui a profunda ligação matricial a África, a terra dos tambores, dos rituais e das celebrações pela música, mas também o Continente onde a aventura humana é mais pungente e sofrida.
As várias viagens ao continente africano (à jornada pela zona central do Continente Negro, três anos depois, seguiu se novo roteiro pictórico-musical pela África do Sul e Oriental), produziram Suite Africaine (Label Bleu) segunda obra temática, que retém, em disco e em fotografia, as profundas impressões recolhidas entre as gentes daquelas remotas paragens.
Este ano viu nascer um terceiro capítulo, African Flashblack (Label Bleu), inspirado nos 30 anos de memórias fotográficas de Le Querrec, com lançamento em finais de Outubro e estreia mundial ao vivo nesta 2.ª Parte do Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra. De novo e sempre a imagem musical de uma África fascinante e misteriosa nas suas grandezas e misérias, que inspira e conduz o trio às origens mais profundas do jazz, integrando os ecos dessa memória ancestral com sinais marcantes da modernidade.
É esta compósita realidade euro-africana, síntese bem elaborada de passado, presente e futuro, que transporta a música de Romano/Sclavis/Texier a um patamar único no panorama do jazz europeu.
Alberto Conde Trio
Alberto Conde - piano
Baldo Martinez - contrabaixo
Nirankar Khalsa - bateria
Compositor e pianista de jazz, nascido na Galiza em 1960, Alberto Conde formou-se em guitarra pelo Conservatório de Ourense, sob a orientação do maestro Tomás Camacho. Os primeiros contactos com o jazz, teve-os Conde em Banyoles (Girona), no âmbito de vários workshops organizados pelo Taller de Músicos de Barcelona. A partir de 1980, Banyoles proporcionou-lhe a oportunidade de interagir com Thad Jones, Chuck Israels, Ben Riley, Cláudio Roditi, Steve Brown e outros músicos americanos em trânsito por terras de Espanha.
Depois destes contactos, Conde resolveu estudar e aprofundar aquelas experiências na Califórnia, onde passou a residir e a frequentar a San Diego School of Performing Music. Regressado à Galiza, decidiu partilhar a experiência adquirida, pondo a funcionar uma escola e várias formações de jazz, actividades que foi desenvolvendo em paralelo. Entretanto, escreveu composições e arranjos para pequenos combos e orquestras, preside à Associação de Músicos de Jazz da Galiza, gravou quatro discos e realizou concertos em Espanha, França e Portugal com o Alberto Conde Trio, que integra o também galego Baldo Martinez (contrabaixo) e o norte americano Nirankar Khalsa (bateria), músicos talentosos e criativos com quem, em 2002, gravou o CD Entremares, co-produzido por Alberto Conde e Baldo Martinez. O disco reflecte os dotes composicionais do pianista e revela três versáteis executantes com estilos diferentes, atravessados por uma marcante influência da música tradicional, resultando num world jazz de sabor galego (a chamada Muiñeira-jazz).
Conceptualmente, a música de Alberto Conde parte de uma base folk fresca e original, a que se adicionam melodias simples e espaço para a improvisação e experimentação sonora. É esta proposta que Alberto Conde convictamente trás ao Jazz ao Centro/2005.
Fredrik Nordström Quintet
Fredrik Nordström – saxophone tenor
Magnus Broo - trompete
Mattias Ståhl - vibrafone
Ingebrigt Håker Flaten - contrabaixo
Fredrik Rundqvist - bateria
Fredrik Nordström, sueco, nascido em 1974, começou a tocar saxofone alto por volta dos 10 anos. Aprendidas as primeiras notas, frequentou várias escolas de música, até se decidir pela via do jazz, incentivado por mestres como Joakim Milder, Mats Gustafsson, Örjan Fahlström, Bobo Stenson e Palle Danielsson, com quem se relacionou a partir da segunda metade dos anos 90, no Royal University College of Music de Estocolmo.
Em 1998, gravou Urgency, o disco de estreia com o octeto Fredrik Nordström's 08 (Dragon Records, 2000), a que se seguiu o trio com o contrabaixista Palle Danielsson e o baterista Fredrik Rundqvist, em 2001. Em 2002, recebe o prémio Jazz in Sweden, que lhe proporcionou a possibilidade de gravar On Purpuse, o primeiro disco em quinteto, com uma formação idêntica à que vamos poder ver em Coimbra, à excepção do contrabaixista, que em 2002 era Filip Augustson. Durante a temporada que se seguiu a On Purpuse, o grupo realizou digressões pela Suécia e Finlândia, foi ganhando maturidade e entrosamento, até que se lhe deparou a oportunidade de fazer um périplo pelo Canadá, que chamou a atenção da crítica canadiana e norte-americana. Embalado pelo relativo sucesso entretanto granjeado, Fredrik Nordström, então já com o contrabaixista norueguês Ingebrigt Håker Flaten na formação, abalançou-se ao segundo disco em quinteto, Moment, gravado para a novel editora sueca, Meserobie (2004).
O FNQ, composto por cinco das mais relevantes figuras da música improvisada nórdica actual, e num contexto europeu mais alargado, é um dos grupos em que se pode depositar maior confiança quanto à capacidade de reformulação e rejuvenescimento do jazz. Sobretudo pela maneira inteligente como combina os elementos imediatamente associados à tradição americana, incluindo o continuum pós-ornettiano, com as idiossincrasias da música improvisada europeia. Um certo swing moderno, aliado à liberdade estilística e formal, permitem afirmar que o Fredrik Nordström Quintet bebe do melhor que brota de ambas as fontes.
Michaël Attias Trio
Michaël Attias - saxofone alto
John Hebert - contrabaixo
Takeaki Toriyama - bateria
Tido como um saxofonista que toca com autoridade e paixão, assim que se ouve Michaël Attias é-se de imediato levado a pensar que o qualificativo apontado é inteiramente merecido. Não apenas porque Attias sopra vincadamente, mas sobretudo porque as suas composições comunicam ideias fortes, geradas por uma mente que sabe o que diz e como fazê-lo de forma eficaz e directa. Temos então um músico completo, enquanto instrumentista e compositor, que além destes pergaminhos, tem ainda toda uma história pessoal que certamente contribui para enriquecer a música que compõe. Nascido de pais marroquinos em Haifa, Israel, em 1968, Attias viveu parte da infância em Paris e a adolescência nos EUA. Aqui estudou com gente tão diferente como Pat Moriarty, Lee Konitz, Alan Silva e Anthony Braxton, e tocou desde duetos à grande orquestra. Outras associações de Attias incluem os nomes de Anthony Coleman, Marty Ehrlich, Ellery Eskelin, Mark Helias, Oliver Lake, Mat Maneri, Tom Rainey e Herb Robertson.
Em 1994, mudou-se para Nova Iorque, onde percorreu o circuito dos clubes e tocou com toda a gente disponível. Chegado o ano de 2005, gravou o álbum Renku (a expressão designa um tipo de poesia japonesa), com um trio homónimo, formado por John Hebert, contrabaixista da Downtown de Nova Iorque, e o japonês Satoshi Takeishi, bateria. A música deste trio, o mesmo que vem tocar à 2.ª Parte dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, com a excepção do baterista, substituído na ocasião por Takeaki Toriyama, situa se no vasto campo de possibilidades entre a escrita musical e a improvisação, explorando sobretudo originais de Attias.
Depois de Renku (Playscape, 2005), na calha, para edição próxima, está um disco com o sexteto CREDO, a sair na editora portuguesa Clean Feed.
Para o concerto dos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra, o trio propõe-se explorar sobretudo originais do saxofonista, sob a forma de estruturas abertas e flexíveis, que acomodam espaço generoso para a intervenção individual. Pretextos ideais para as after hours do Jazz ao Centro.
Eduardo Chagas