Até há pouco tempo o nome Contemporary Jazz Quintet não me dizia nada, tirando o simples facto de me remeter para algo que me ressoava vagamente a jazz nórdico, sem o referenciar a um país em concreto, a um dado estilo ou época. Há cerca de dois meses, travei conhecimento pessoal e directo com Actions (1966-67), o primeiro de três álbuns gravados pelo Contemporary Jazz Quintet, graças aos inestimáveis esforços de John Corbett e do seu projecto Unheard Music Series/ Atavistic, de trazer hoje à superfície obras discográficas do jazz de vanguarda dos últimos 40 anos, gravadas e nunca publicadas, ou esgotadas e jamais reeditadas. Actions é um disco fascinante que regista o que de melhor se fez em meados da década de 60 em matéria de free jazz europeu, fotografia nítida de uma época em que um pouco por toda a Europa e em particular nos países nórdicos (o quinteto é dinamarquês) se sucediam as ondas de choque provocadas pela revolução de Albert Ayler. Na verdade, a matriz principal do som do Contemporary é o free americano que se tocava em Nova Iorque por aquela altura, estilo que o quinteto aborda numa perspectiva da free music europeia, algures entre as estéticas da norte-americana ESP e da alemã FMP. Para além do jogo de timbres e texturas entre a trompete de Hugh Steinmetz e o saxofone alto de Franz Beckerlee, sustentados no som quente do contrabaixo de Stefan Andersen e pontuados pela percussão murrayana de Bo Thrige Andersen, baseada em longas ondas rítmicas, é especialmente digno de nota o trabalho de Niels Harrit com serra e arco. Este instrumento possui uma capacidade expressiva diminuta, mas Harrit consegue marcar a agenda sonora por entre as voltas dos sopros, criando ambientes de rarefacção entre o sinistro e o cómico.
Actions não trás consigo nada que não tivesse sido ouvido antes e com melhores resultados. Além do intrínseco valor documental, que permite conhecer melhor a geneologia da New Thing, tem especial interesse para os amantes da livre-improvisação.