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13.3.05
 
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Casa cheia para ouvir Dave Douglas & Nomad na apresentação em Portugal de Mountain Passages. O disco, vigésimo segundo da carreira do trompetista e primeiro para a Greenleaf, editora própria recém-fundada, resultou de uma encomenda do Festival I Suoni delle Dolomiti para nele apresentar uma peça inédita para ser interpretada a mais de 3000 metros de altitude, em que era suposto músicos e assistência deslocarem-se a pé até às alturas alpinas e aí conviverem e celebrarem a alegria de viver através da música.
Em Lisboa, o local escolhido para a apresentação foram as planuras de beira-rio de Belém, onde Dave Douglas (trompete), Marcus Rojas (tuba), Michael Moore (clarinetes e saxofone alto), Rubin Kodheli (violoncelo) e Tyshawn Sorey (percussão), fizeram muito por transportar o auditório ao topo imaginário das mais altas montanhas musicais.
Nomad é uma banda fora de comum na instrumentação, no som e na atitude. Não é vulgar, mesmo nas linguagens do jazz ou dele afins, ouvir-se uma combinação instrumental de trompete, tuba, saxofone alto, clarinetes, violoncelo e bateria, e menos ainda a produzir um tipo de som tão diverso e eclético, próximo da música de câmara de tradição europeia, da música cigana, da folk centro-europeia, da música ladina, do jazz, das steet bands, atravessado de ponta a ponta pelo espírito do jazz, entre o ébrio e a elevação espiritual. A plasticidade sonora é tal, que tanto soa a música de bar em noite de folia, como a música de câmara interpretada numa sala de concertos, perante públicos exigentes e condicentes com ambos os cenários.
Além da competência técnica individual de cada músico integrante desta particular formação do NOMAD, que sofreu alterações no line-up original em função de compromissos de agenda dos “originais” elementos, e da excelência das composições do trompetista, impressionou imenso a capacidade de interacção, o lirismo e o sentido de colectivo que os cinco injectaram a cada passo da progressão musical. Os pormenores dos arranjos e a improvisação transformaram a música em algo de grandiloquente, sem ser pomposo, com enorme profundidade de campo, elevada concentração dos executantes e sentido de unidade na produção de um som extraordinário.
No primeiro encore ouviu-se aquele que ficou como um dos momentos altos da celebração, uma composição de homenagem ao grande Lester Bowie, num tom de gospel repassado de saudade pela trompetista do Art Ensemble of Chicago, que deixou a sala rendida à intensa interpretação do quinteto. Como o público não dava mostras de se querer ir embora, o grupo regressou ao palco para tocar uma última peça, que rematou uma noite de excelente música e um concerto a todos os títulos memorável.
Dave Douglas & Nomad
Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém
12 de Março de 2005.


 


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