Christian Fennesz tem andado nas bocas do mundo. Porque tinha editado Venice, em 2004, e também porque, desde então para cá, quatro anos volvidos, nada tirava da manga para entreter a vasta coluna de admiradores. Mas eis que a espera terminou a 17 de Novembro último com a edição de Balack Sea, em LP e CD, pela britânica Touch. E, à vista do que se ouve agora, se o rapaz andou este tempo todo a trabalhar no disco – o que não seria de admirar dado o cuidado perfeccionista que lhe anda associado – parece que valeu bem a seca. Venice teve o seu interesse, pela temática melódica e harmónica que trouxe para a discussão. E Black Sea não lhe fica atrás. Cá estão o noise característico, o lixo cósmico que tão laboriosamente deve ter andado a catar aqui e ali, sintetizadores, guitarras acústicas e eléctricas, simples e transformadas, o glitch pulverizado sobre a mistura, processamento em computador, enfim, os ingredientes utilizados por batalhões de criadores e artistas sonoros um pouco por toda a parte, mas que nas mãos do austríaco adquirem uma substância e um fluxo narrativo particulares, aos quais Fennesz apõe a sua assinatura personalizada. Tudo passa por uma maneira especial de orquestração sonora de detritos, paisagismo e texturas densificadas; a tal arrumação desarrumada que lhe fica a matar, embora não isenta de previsibilidade e de déjà vu. Anthony Pateras participa com piano preparado em The Colour of Three. Black Sea, disco de electrónica entre o experimentalismo e a canção sem palavras, tributário de um certo romatismo pop, entrará ainda nas listas de melhores do ano de muito boa gente, por certo.