Psicólogo, académico e músico japonês,Nobu Stowe, continuador no piano das estéticas de Bill Evans e Keith Jarrett, tem mantido activa uma mão-cheia de projectos, todos eles nas áreas da improvisação total (à maneira de Keith Jarret, descontadas as influências dos blues, que Stowe não tem), improvisação livre e pós-fusão. No último ano e meio, Stowe lançou quatro discos nas editoras Konnex e Black Saint/Soul Note. Cronologicamente, Brooklyn Moments (Konnex, 2006), capta a Total Improvisation Unit, com Blaise Siwula, Nobu Stowe e Ray Sage, num conjunto de improvisações abstractas em ambiente lírico, com uma ponta de calor à maneira de Don Pullen, aquele em que o pianismo do japonês melhor transmite a sua arte. O trio funciona em pleno, destacando-se o trabalho de construção de Blaise Siwula, saxofonista e flautista conhecido de projectos com inúmeros artistas de Brooklyn e Nova Iorque. Ray Sage, na bateria, opta de modo eficiente por um tipo de drumming mais textural, sem marcação de tempo.
Na mesma linha de Brooklyn Moments, surge New York Moments. A formação é a mesma (Blaise Siwula, Nobu Stowe, Ray Sage), acrescentada do guitarrista Dom Minasi. Em quarteto, a musica ganha outra expansão, prosseguindo o mesmo tom de misticismo abstraccionista, com estruturação e fragmentação melódica, com diálogos à maneira de Cecil Taylor e Jimmy Lyons, por entre os quais Minasi se insinua sempre com pertinência. Nesta medida, os Moments de Nova York constituem um passo em frente em relação aos de Brooklyn. A estreia de Nobu Stowe na Soul Note fez-se ainda há poucos meses, com um tributo ao actor alemão Klaus Kinki. Para Hommage An Klaus Kinski, subtitulado Total improvisation on sonic canvas, Stowe associou-se ao escultor Lee Pambleton (som, electrónica). O resto do programa foi preenchido com sessões em trio, quarteto e quinteto. Reincide Blaise Siwula, ao lado de Perry Robinson (clarinete e ocarina), Ross Bonadonna (clarinete, saxofone e guitarra) e John McLellan (bateria), num set de composições instantâneas, com uma curiosa versão (mais uma) de Round Midnight, de Thelonious Monk, a fechar a sessão, puxada até aos 76 minutos. Talvez este seja o disco de Nobu Stowe em que a influência de Jarrett é mais notória ao nível da criação de tensão via repetição de acordes em progressão ascendente e descendente.
Prestes a sair na italiana Soul Note em Dezembro de 2007, está programado An Die Musik, Baltimore, disco com outro baterista, Alan Munshower e com o histórico percussionista norte-americano, Badal Roy, em tabla e voz. A sessão foi gravada ao vivo no clube An Die Musik, de Bernard Lyons, casa que habitualmente programa concertos de jazz e música improvisada das mais diversas correntes. Na noite de Baltimore, EUA, o trio de Nobu Stowe retomou a suas sequências da total-improvisation jarrettiana, fundindo a improvisação livre com a composição instantânea, num estilo mais próximo do que Stowe designa por post-fusion, subgénero que pratica habitualmente com o Trio Ricochet (Nobu Stowe, Tyler Goodwin e Alan Munshower). O disco balanceia tranquilas exposições sonoras com momentos de maior atrevimento exploratório, denotando uma prática musical regular em conjunto.
Ainda na alemã Konnex, em co-produção com a ICTUS Records, editora do percussionista italiano Andrea Centazzo, Nobu Stowe editou Soul in the Mist em Julho de 2007, material resultante de dois concertos realizados em Novembro de 2006, na Universidade da Pensilvânia, e no Trumpet’s Jazz Clube, de Montclair, New Jersey, EUA. Com Stowe e Centazzo tocou o clarinetista Perry Robinson. As composições, oito no total, são todas de Centazzo, que também utiliza samplers e teclados. De todo o conjunto de discos, este é o mais sereno e introspectivo, cheio de frases delicadas, tanto no clarinete como no piano, esparsos sons de percussão. A fechar o lote de gravações de Nobu Stowe, um disco do Trio Ricochet, em versão demo, intitulado February 2006. Nas palavras de apresentação do disco, diz-se que a ideia é explorar a post-fusion, definida como um híbrido entre a improvisação baseada em composições de estrutura aberta típica do post-bop, como fazem os inspiradores Chick Corea, McCoy Tyner ou Keith Jarrett, e o ritmo e a energia da fusão moderna, à maneira de Pat Metheny. Pessoalmente, February 2006 não me encanta por aí além, já que o que aqui acontece, pese embora a irrepreensível competência do trio, com o pianista à cabeça, é o sulcar de caminhos já muito batidos por outros trios pós-modernistas, como The Bad Plus ou o Esbjorn Svenson Trio, para citar dois campeões de popularidade. Porventura, este virá a ser o disco mais 'vendável' de todo o cacho, e ainda bem. Porque pode servir de chamariz para os outros discos, menos óbvios e orelhudos, mas incomparavelmente mais interessantes. Por uns e por outros, Nobu Stowe merece atenção.