À procura de espaço de arrumação para os discos que vão entrando, antes de o arquivar na zona mais distante, resolvi dar-lhe nova audição. Talvez porque tenha guardado boas memórias das vezes em que o rodei insistentemente. Que beleza, este disco de Paul Dunmall, Love, Warmth and Compassion. De fio a pavio. Em quatro temas, um por cada sentimento a que o título alude, mais o extra Before Stonehenge (a tempo do solstício de Verão, que a Primavera, após longos e penosos trabalhos, enfim pariu), Dunmall celebra e toca saxofone soprano como nunca antes lhe tinha ouvido em disco, tirando porventura alguns dos momentos excepcionais do quarteto Mujician, outra grande conversa de que se aguarda notícias, depois de There’s No Going Back Now, volume do ano passado. Picada pela assombrosa prestação do líder (o termo é totalmente apropriado, como sabe quem sabe do que falo), a guitarra de Phil Gibbs soa tesa e arrebitada, muito para lá de quaisquer maneirismos e convencionalismos que associar se possam às seis cordas electrificadas, em particular no tema Compassion. Paul Rogers e o seu contrabaixo de 7 cordas, atravessam longitudinalmente o drone de sax soprano e de gaita de foles de Dunmall, em concomitante alternância, servido pelo calor da fornalha percussiva de Hamid Drake. Juntos, quatro gigantes da improvisação moderna, ao serviço da criação duma música lírica, física e emocionante. Não é de bons sentimentos que se faz a melhor música, mas esta é fazenda de qualidade, superiormente talhada e trabalhada pelos três brits e pelo amigo americano. Edição da FMR Records, de Trevor Taylor. Distribuição em Portugal pela Sonoridades.