Casa cheia para uma noite de EST no CBB, em Lisboa, a 22 de Julho p.p. Apelidado por muita gente de trio “inovador”, só a ouvidos muito distraídos ou demasiado empolgados poderá soar assim. Importa não confundir o que os suecos Esbjörn Svensson, Dan Berglund e Magnus Öström fazem bem – a iconoclastia das tradições ligadas ao trio de piano no jazz, através da sua desconstrução e da importação de elementos até há algum tempo estranhos ao serviço do género – com aquilo que se poderia designar pela elevação do formato e do conteúdo do trio a patamares ainda não alcançados. Tarefa de dificuldade superior... Praticantes desta modalidade de esbatimento de fronteiras do jazz relativamente a outros géneros, há cada vez mais (o mesmo se passa nas permutações do jazz com a new music, com o rock, a world, etc.) e o EST não é seguramente o primeiro nem será o último a fazê-lo. Neste segmento particular do jazz versus pop – um filão a explorar – há muito que Brad Mehldau ou Jason Moran, para citar os mais afamados, vêm calcorreando idênticos caminhos de fusão, com resultados bastante diferenciados. À vista do que se conhece em disco e se ouviu na noite lisboeta, o EST não é nome para se contar entre aqueles que podem dar "novos mundos ao mundo" do jazz. Nem é isso que parece interessar aos próprios e às audiências. Porventura, estará mais virado para captar o gosto e o interesse de um público do “centro”, homólogo do “centrão” político, flutuante por natureza. Nessa medida, consegue agradar às massas, alcançando bons lugares nas tabelas de vendas pop, beneficia de audiências planetárias via MTV, e, simultaneamente, seduz boa parte das atenções do público típico (e atípico) do jazz. Como? Através da capacidade de desmontar referências anteriores e remontá-las sobre outras plataformas, remisturando tudo num composto light de fácil digestão e assimilação. Na observação deste processo, o EST foi interessante de seguir, mesmo quando ocasionalmente entediante, em particular nos solos de contrabaixo preparado com electrónica, por vezes de gosto kitsch algo duvidoso.
O grande mérito o EST, tanto quanto me parece, reside em ser um trio simpático, agradável de ouvir e competente na arte da miscigenação, ainda que demasiado previsível para estes ouvidos. Em disco e ao vivo (curiosamente, soa sempre como se de disco se tratasse) o trio pratica uma fórmula de sucesso garantido, muito dentro do estilo do Pat Matheny Group. No CCB só faltou a guitarra de Metheny para ser quase chapadinho. Mérito, demérito? Não importa. Soou bem enquanto não cansou, face à ausência de risco e à insistente repetição do mesmo tipo de soluções harmónicas, rítmicas e melódicas.