Com um ouvido especial para a história do saxofone tenor, de Coleman Hawkins para a frente, Seth Meicht (n. 1976) reelabora sobre o swing de anos passados, filtra-o, mistura-o com groove moderno e surge com um som maduro, incisivo e despretensioso. Ao trio que reunira para Trio, disco editado pela Cadence Jazz Records, com o contrabaixista Matt Engle e o baterista Lonnie Solaway, de entre Filadélfia e Nova Iorque, juntou o saxofonista tenor Matt Bauder (n. 1976), do trio Memorize the Sky, com intensa actividade em Chicago e na zona de influência da editora 482 Music, e registouIllumine na Creative Improvised Music Projects (CIMP), em 28 e 29 de Março de 2006. Pelo que se ouve, a sessão correu pelo melhor, ao nível da exploração harmónica, das melodias enunciadas em uníssono, e no equilíbrio entre improvisação em quarteto e improvisação individual. Tema a tema, o disco enche-se de luz e cor exuberante, projectadas nas diferenças de estilos e no contraste entre diferentes maneiras de dizer, de ouvir e de responder. Combinação de suavidade e delicadeza, mas também músculo e energia, como o próprio líder aponta nas notas que escreveu para o disco. Bob Rusch, o produtor, é certeiro quando refere as propriedades do som dos dois saxofonistas, atribuindo a Seth Meicht uma inclinação para sonoridades próximas de Coleman Hawkins, Sonny Rollins ou Roland Kirk, e a Matt Bauder uma propensão para sabores west coast, como os de Warne Marsh ou Lee Konitz, duas das principais matrizes da história do saxofone tenor que nunca se opuseram, antes se complementaram. Se a estas características somarmos a riqueza de vocabulário de ambos os instrumentistas e a capacidade de elaborar a partir da citação histórica, como maneiras de exprimir tensão e convergência, encontramos sentido num projecto que prima por mostrar facetas distintas do saxofone tenor moderno, novas possibilidades para o jazz e a originalidade de vozes só agora se começam a afirmar.