Outra revelação. Esta semana tem sido assim, fértil: Nuno Martins, grande fotógrafo e music witness português, mostra o seu trabalho na net. Belas fotos. Esta de Mats Gustafsson (The Thing) no Jazz em Agosto de Fundação Gulbenkian, em 2004, por exemplo, é das que mais gosto. Abraço ao Nuno!
A propósito do concerto de The Thing, recordo o que "fotografei" na altura: Mats Gustafsson tem sido, nos últimos anos, visita assídua do JeA. Se me não falha a memória, esteve consecutivamente presente nas mais recentes edições (exceptuando a de 2003), sempre integrado em formações diferentes. Primeiro, com o Aaly Trio, nesse ano acrescentado de Ken Vandermark, naquele que foi um dos melhores concertos e um dos pontos mais altos de toda a história dos já consideráveis 20 anos de JeA; depois, esteve em duo com a bailarina Lotta Melin; e ainda integrado na big band de Barry Guy, a esfusiante New Orchestra. Finalmente, com o trio "schnapps" The Thing, aparição a que acresce uma outra no quinteto de jazz do japonês Otomo Yoshihide. Mas, quanto a este último, já lá vamos. The Thing: Mats Gustafsson, Ingebrigt Håker Flaten e Paal Nilssen-Love… . Desta “Coisa” apenas conhecia uma prova material homónima, datada de 2000, publicada pela editora nórdica Crazy Wisdom. E tivémos mais uma prova de que Mats Gustafsson é um dos principais cabecilhas escandinavos do que se pode apelidar de movimento de redefinição da música improvisada europeia. Da sua iniciativa têm partido um muito razoável número de grupos, a maioria deles filiada numa estética de um free jazz bravíssimo, um híbrido que resulta da síntese pós-ayleriana e pós-coltraneana, com elementos diversos das escolas improvisação europeia. É o caso particular deste The Thing, animal que deixa chegar perto mas não admite que se lhe afague o pêlo. Potente, The Thing, para gozo deste escriba, tocou um free jazz do tipo mais ardente, vigoroso e capaz de arrebatar a audiência, por completo rendida aos encantos da brutal avalanche sonora que quase devastou o Auditório 2 da circunspecta Fundação. Fosse em tenor ou barítono, Gustafsson e seus sequazes noruegueses, com os quais se entende na melhor das cumplicidades, deram uma autêntica sova musical à assistência. E já era bem merecida por esta altura. The Thing, literalmente um power trio com a pujança que se esperava, foi o momento mais tórrido e incandescente do festival. Uma actuação memorável. (Publicado na saudosa A Puta da Subjectividade).