Hans Tammen (endangered guitar), Alfred 23 Harth (saxofone tenor, clarinete baixo e um dos best kept secrets alemães das últimas quatro décadas, também artista plástico e fotógrafo, actualmente em digressão com o Otomo Yoshihide New Jazz Ensemble e Orchestra), Chris Dahlgren (contrabaixo e brinquedos electrónicos dos mais solicitados no meio novaiorquino, pupilo de Braxton e Holland, sóm para dar uma ideia do calibre do moço) e Jay Rosen (do Trio X com Joe McPhee e Dominic Duval, a ubíqua e mais completa bateria da CIMP e de muitas outras editoras). O único aspecto que aqui carece de elucidação será talvez é a expressão endengered guitar usada por Hans Tammen, superior guitarrista alemão. Ou então não, porque atrás daquela marca registada e aparentemente arrevesada adivinha-se a ideia simples de alterar a configuração física e acústica do instrumento, que desse modo passa a assemelhar-se a uma guitarra eléctrica que o foi e que, apesar dos "maus tratos" infligidos, ainda o é, embora vagamente ou em vias de extinção. O resto da instrumentação é apresentada na sua forma comum e tradicional. O que não é nada comum nem tradicional é a maneira de trabalhar com aquelas ferramentas, nem os homens que as dominam. Quatro músicos com saber e coragem para expor a sua sensibilidade para lá dos limites. Música organizada sem hierarquização ou liderança de um só dos intervenientes, senão a que emerge da tensão entre expressão individual e colectiva, segundo o princípio basilar de ouvir, processar e reagir. Direcção, atitude, consistência, nervo, pulso, energia, resposta, narrativa sequencial e fragmentada - tudo converge para fazer desta uma sessão empolgante como a que se imaginaria possível às mãos destes quatro magníficos. Sem mistificações nem falsas partidas, Expedition encerra o mistério próprio de um salto no vazio, como quem vadia por locais desconhecidos, ora escuros e desoladores como cais de embarque a horas mortas, ora luminosos e sinceros como almas jovens em estados supremos de improvisação pura. Gravação ao vivo de 2001, na Knitting Factory, em Nova Iorque, acabado de editar pela ESP-Disk, com o número 4031. Um dos acontecimentos editoriais do ano, pela certa. Escuta ideal para acompanhar a leitura de Philip Roth, The Human Stain, com edição portuguesa (A Mancha Humana) pela D. Quixote.