Em revisões da matéria dada, preguiçando um pouco em tempo de férias, há um disco de Fred Anderson – o padrinho do jazz de Chicago, co-fundador da Association for the Advancement of Creative Musicians (AACM) – que me tem acompanhado nas deambulações próprias da saison: “Fred: Chicago Chamber Music” (Southport). Fred Anderson pratica aqui um estilo próximo da mistura bop e blues, o que constitui uma espécie de hiato em relação ao expressionismo free que o caracteriza de forma mais marcante e imediatamente reconhecível. "Fred: Chicago Chamber Music" veio ao mundo numa micro-editora de Chicago, a Southport Records, e em edição limitada, pelo que acabou por adquiri o estatuto transitório de iguaria servida restritamente dentro do nicho a que se destinaria. Pior ainda, tem estado out of print (embora ainda seja possível encontrá-lo e a bom preço). Pena, porque este duplo CD tem muito com que entreter o genuíno jazz lover. Vejamos: o primeiro disco apresenta um trio com o contrabaixista asiático-americano Tatsu Aoki e com o baterista Afifi Phillard, dupla com a qual Anderson desfia boa parte do que é capaz com o saxofone tenor, bastas vezes a puxar para o extremo Sonny Rollins. O segundo disco acrescenta o pianista Bradley Parker-Sparrow (fundador da Southport, “Real Jazz made in Chicago”) em dois temas, reservando Fred Anderson o resto do espaço para dialogar mano-a-mano com o grande Tatsu Aoki. Gravação de Maio de 1996, quando Fred contava 68 anos. Vimo-lo em Lisboa, ao vivo no Jazz em Agosto de 2002, numa forma física e criativa impressionantes. Em 2006, está aí para as curvas, pronto para reabrir o seu afamado Velvet Lounge, em Chicago.