Deste já estava à espera há algum tempo. Através das movimentações à volta do Trummerflora Collective, a que pertence o percussionista Marcos Fernandes, foi-me possível antecipar o encontro, mesmo tendo em conta que tal poderia nunca passar de um hipotético desejo, considerando a distância física que medeia entre os membros deste colectivo de improvisadores. Que agrupa, além do percussionista nipo-americano, repartido entre Yokohama e San Diego, o também californiano Hans Fjellestad, do duo Donkey, em sintetizadores, o japonês Haco, em voz e electrónica, e o dinamarquês Jakob Riis, em laptop. Em “Haco Hans Jakob Marcos”, gravado em Tijuana, México, a receita é combinar eficazmente sons electrónicos e orgânicos de modo inventivo, estabelecer pontes entre dois mundos, realidades culturais que tanto têm de próximo como de distante, assimilar a reverberação de sons antigos que ecoam juntamente com o último grito da fonte digital. A arte está no saber dosear os ingredientes, improvisações vocais e instrumentais; saber usar o tempo e o espaço como base de trabalho e com eles confeccionar um produto musical capaz de comunicar uma extraordinária vitalidade. Num mercado em que proliferam edições de música electroacústica improvisada, esta edição é um caso bem sucedido de intercâmbio estético sem constrangimentos de ordem formal, eivado de um certo pragmatismo sonoro e assinalável empenhamento artístico. Tudo concorre para estimular a imaginação do ouvinte. Excelente entretenimento, este "Haco Hans Jakob Marcos", a mais recente edição da norte-americana Accretions.