Jan Ström, o entusiasta e devotado editor da sueca Ayler Records, já se sabia, não hesitou quando chegou à fase da aposentação: em vez de seguir a via mais comum e dedicar-se ao golfe ou à pesca do arenque fumado, decidiu empatar as economias de uma vida ao serviço da paixão que dele tomou conta desde a juventude: o jazz, nas suas expressões mais livres e inconvencionais. Ainda bem que assim, foi; de outro modo, ver-nos-iamos provavelmente privados da possibilidade de ouvir tantas e tão boas propostas musicais que mestre Ström de quando em quando saca do baú. Na verdade, de há uns anos a esta parte, Ström tem realizado um trabalho ímpar, ao dar a conhecer obras que a história guardou só para si, inéditos de John Stevens, Albert Ayler e Jimmy Lyons, dando ainda particular atenção ao que de novo tem vindo a acontecer. Neste último aspecto, Jan Ström tem privilegiado a edição de actuações ao vivo naquele que é já um espaço de referência e de primeiro plano na cena nórdica: o Glenn Miller Café, restaurante e clube de jazz de Estocolmo, aberto às experiências jazzísticas menos reverentes da forma e da tradição. Dessa série, um dos mais interessantes grupos que Ström ajudou a revelar neste início de década foi o Exploding Costumer, quarteto cujo primeiro disco passou despercebido da generalidade do público do jazz, mesmo da parte habitualmente mais interessada e atenta às movimentações fora do jazz mainstream.
Integram o Exploding Costumer, o vibrafonista do School Days, Kjell Nordeson, aqui na função de baterista, o saxofonista Martin Küchen, o trompetista Tomas Hallonsten, e o contrabaixista Benjamin Quigley. Em 2002, o quarteto gravou Live at Glenn Miller Café (Ayler 030), disco que se veio a revelar um sucesso artístico inversamente proporcional aos resultados económicos gerados, segundo o próprio Jan Ström. Daí que o produtor tenha hesitado em publicar outras gravações subsequentes, jejum a que veio a pôr termo recentemente, com o lançamento de uma gravação realizada no Tampere Jazz Happening, Finlândia, em Novembro de 2004. O quarteto de saxofone, trompete, contrabaixo e bateria, que teve o zénite estético em Ornette Coleman, tem vindo a ser renovado e aprofundado nos últimos 40 anos, chegando aos dias de hoje num estado de reinvenção e assinalável fulgor. Para tal contribuíram hordas de bons executantes, como é o caso do Masada, o célebre quarteto de John Zorn e Dave Douglas, Greg Cohen e Joey Baron. Curiosamente, há aspectos do Masada que parecem inspirar o grupo sueco, perceptíveis numa certa agilidade melódica e na utilização de elementos inspirados nas tradições musicais do médio-oriente. Ken Vandermark também lhes passou pelos ouvidos, tal como o compatriota Mats Gustafsson e The Thing, cujos traços são reconhecíveis no lado mais rocker do Exploding Costumer.
Como o próprio nome indica, quarteto não está com meias medidas quanto ao modo de actuar: verve, truculência, energia e altas rotações, ausência de truques, revivalismos ou maneirismos, são algumas das marcas essenciais do seu programa de acção. Aquele em que acreditam e praticam com denodo e muita convicção. É ouvir para crer. Exploding Costumer, Live at Tampere Jazz Happening.