Este não é fácil de encontrar, mesmo em segunda mão. Tive essa sorte aqui há tempos. Mais que improvável, parecia-me impossível deparar-me com tal, mas fui dar com Circular Temple, do Matthew Shipp Trio, esquecido, sem que uma mão curiosa, coleccionadora ou não, dele se abeirasse com intuito de apropriação. “Guardado está o bocado…”, lá diz o povo.
Os 1000 exemplares publicados em 1991 pela Quinton Records, editora de Shipp, esgotaram-se num ápice. O mesmo sucedeu à reedição de 1994 da Infinite Zero/American Recordings, editora dirigida por Henry Rollins. Circular Temple foi o segundo de Shipp, imediatamente a seguir ao duo com o saxofonista Rob Brown (Sonic Explorations), muito antes da notoriedade que lhe adviria da pertença ao estável quarteto de David S. Ware, e das mais recentes aventuras na Thirsty Ear. Curiosamente, Matthew Shipp chegou àquela editora em boa medida por causa deste disco e das ligações que Henry Rollins tinha com a Infinite Zero, a 2.13.61, e mais tarde com a Thisty Ear, distribuidora da marca de Rollins. O disco denota a atenção que o pianista deu à música de Cecil Taylor, Paul Bley e Andrew Hill, cujas linguagens expandiu para lá dos limites conhecidos. Outras influências que Shipp reclama para si são as dos pintores Jackson Pollock e Mark Rothko – o mesmo tipo de vocabulário do expressionismo abstracto posto em música. William Parker e Whit Dickey, dois terços desta espantosa sessão de energia espiritual, o suporte vigoroso que dá um balanço incrível às teclas de Shipp ao longo das quatro partes em que se subdivide Circular Temple. Uma delas, a segunda, tem o subtítulo de Monk’s Nightmare. Escreveu John Ferris em 1991, a propósito de Circular Temple: «Is this “not jazz”? Not ever? The tom-tom is here, but the musical landscape is vast, the syntax so broad, so personal, a new language is created: pantonal, polyrhythmic, one implying a whole new and total cosmos: now dark, foreboding, now playful, lyrical, always clear, well crafted, absorbing. Whose language are we speaking? The answer to that question is at one and the same time both easy and complex: the language of this trio. Mat Shipp’s language. If you want to understand, you simply have to listen. Dig?»
A 31 de Janeiro sai o novo disco a solo de Matthew Shipp, na Thirsty Ear/Blue Series. One.