Esta vai valer a pena. Já está a valer, aliás. O quinteto DOPO, dos arredores do Porto, editou na test tube o seu ep de estreia no campo da música experimental, Last Blues, To Be Read Someday (test tube 030), que considero um dos projectos mais interessantes e originais do experimentalismo inclassificável nacional. Um mimo – diria assim – que pode ser melhor apreciado via dowload a partir da página da netlabel. Rock na aparência, catalizador na evidência, DOPO é como um íman que atrai referências e influências de estéticas dispersas, que nas mãos dos cinco tomam formas no mínimo curiosas. Na base estão as guitarras e a bateria, que abrem espaço para a melódica, harmónio, flautas, low-budget electronics (tanto quanto se consegue perceber, até porque não há nada que soe a laptop nem às melhores marcas de máquinas da especialidade) e tudo o que os DOPO acham adequado a produzir som organizado sob as mais coloridas roupagens de folk urbano ritualista, que tem nos Boxhead Ensemble um dos emblemas/paradigmas mais imediatamente reconhecíveis. Mas isso é apenas a parte “visível”. Porque a música dos DOPO possui várias camadas abaixo do nível do mar, a razoável profundidade, e é susceptível de leituras as mais diferenciadas, ao invadir territórios e imaginários inesperados, fantasmagóricos, ancestrais, apelando à improvisação como salvo-conduto que une as pontas e liga os símbolos desta poética original e personalizada.
Há qualquer coisa de muito atraente neste arranhar imperfeito e inacabado que se aproxima muito de um estado que convida à ascese partilhada. É para aí que converge o espírito da liberdade que esconjura todos os que lhe são adversos. Segredo? Trabalho, memória e talento musical. Ouço o EP vezes sem conta e sinto que a música já me corre nas veias. Maravilhas da administração sonora intravenosa.
Dia 4 de Fevereiro ver-se-á como se safam no primeiro round da ZDB, onde darão aquele que ficará para a história com o primeiro concerto, numa noite a dividir com o público, Lobster e Veados com Fome.