Derek Bailey/Evan Parker, London Concert Psi Records
«Este é um disco histórico (foi gravado em 1975 num memorável concerto em Londres e, se se trata de uma reedição, tem 31 minutos extra e totalmente inéditos de música) de um duo que já não existe, pois entretanto Derek Bailey e Evan Parker zangaram-se e seguiu cada um para o seu lado. E se eles chegaram a acusar-se mutuamente de estagnação nas mesmas fórmulas, a própria evolução das suas respectivas carreiras encarregou-se de os desmentir. Parker levou o mais longe que é possível imaginar as técnicas orientais de respiração circular que aplica no saxofone soprano, multiplicando-se em situações e contextos musicais, do electrónico com o seu Electro-Acoustic Ensemble, com quatro “laptopers” a fazerem processamentos em tempo real, às colaborações que vem mantendo com o dub de Jah Wobble, e Derek Bailey não só emparceirou com músicos techno, a começar por DJ Ninj, como namorou com o free rock dos Ruins e fez as pazes com a balada num célebre disco saído na editora de John Zorn, para além de que, ao perder a mobilidade de um dos dedos, iniciou um processo de reinvenção da sua própria maneira de tocar a guitarra. Sabendo agora o que se seguiu, quase podemos dizer que ambos estavam, na altura do registo destas gravações, ainda na infância das artes que tão bem vêm dominando, mas o certo é que a música que faziam há 30 anos era sólida, inovadora (foram, aliás, dois pioneiros deste tipo de abordagem) e tão afirmativa quanto o que hoje nos propõem, com o acrescento da frescura de algo que tinha acabado de nascer. Se nos abstraírmos do tempo que passou, e até da familiaridade que estes sons hoje possam ter para os fãs da improvisação livre, não poderemos deixar de pensar que tais abstracções secas e pontilhísticas numa guitarra que, mais do que tocada, é torturada, e tais rugidos e gemidos dissonantes de saxofone, deviam soar muito estranhos aos ouvidos comuns dos Seventies. Ainda hoje a aceptabilidade desta música constitui um problema, mas uma coisa ninguém pode desmentir: o que encontramos neste CD aproxima-se muito do sublime». - AnAnAnA