Outro dos grandes discos de 2005. Boas novas nos chegaram o ano passado do Norte da Europa. No que à free improv europeia concerne e em matéria de trabalho sobre som, tempo e espaço, nunca o GUSH (Mats Gustafsson, saxofones soprano, tenor e barítono; Sten Sandell, piano; e Raymond Strid, bateria), na precedente meia-dúzia de edições, havia ido tão longe e tão fundo. Norrköping trás de volta o fenomenal trio sueco em três peças de composição instantânea, gravadas em Maio de 2003: Handpicked (18’43), Sava (13’35) e Rhomb (26'37).
A movimentação dura uma hora inteira e alterna entre o sombrio, a média luz, e passagens vigorosas em altas rotações que se resolvem depois em placidez contemplativa. Como se o trio subisse esforçada e lentamente ao cume da mais alta montanha e se deixasse depois rolar pela encosta abaixo, numa extraordinária viagem cinematográfica por paisagens revolutas intervaladas por clareiras pacificadoras.
Comparado com o Aaly Trio e com The Thing, duas outras formações triangulares em que participa Mats Gustafsson, o GUSH continua a ser a que mais afincada e consequentemente professa o credo nas virtudes da livre improvisação. Razão bastante para que os aficionados do free jazz/improv não possam passar-lhe ao lado.