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20.11.05
 

Sugestionado pela notícia chegada por mail, que anuncia uma próxima e eventual reedição de Relayer, álbum dos YES, apeteceu-me voltar a 1974 e a esse clássico do rock progressivo britânico. Na ressaca de Tales From Topographic Oceans, que em 1973 levou uma corrida da imprensa britânica, os rapazes baixaram um pouco a grimpa e talvez por isso tenham regressado a um formato mais terra-a-terra, imediato e agressivo, no sentido Yes do termo, bem entendido.
Lembro-me do impacto que Relayer causou em 1975, quando a ele tive acesso daquela maneira quase clandestina como se obtinham certos discos em Portugal: amigo que ia a Londres ou Paris era cravado para regressar com as últimas novidades, as mesmas que só apareciam muito tempo mais tarde na Discoteca Roma ou na Discoteca do Carmo, em Lisboa. A primeira encerrou há semanas; a segunda transformou-se há anos num carro de fantasia que vende discos de fado a camones passeantes pela Rua do Carmo. Como a realidade é dinâmica!
Com novo teclista a bordo, Patrick Moraz, que substituiu Rick Wakeman, o som dos Yes ficou temporareamente a ganhar: Moraz toca menos, melhor e mais recuado na fotografia que Wakeman. O baixista Chris “Fish” Squire sustenta o groove e dá um balanço impressionante quando a temperatura sobe e ameaça entornar a fervura. Alan White, bateria, foi talhado para estas aventuras em que a brusca mudança de intensidade e de ritmo é uma constante. Steve Howe esfalfa-se em contorcionismo guitarrístico, com rapidez e bom gosto, e a voz de Jon Anderson consegue meter-se por entre os espaços instrumentais, o que é uma originalidade estética dos Yes. A esta distância temporal até a sacarina de Soon, a peça que encerra o épico vintage The Gates of Delirium (21'55), inspirado em Guerra e Paz de Tolstoi, se diliui bastante. Talvez eu esteja 30 anos mais paciente, ou suficientemente velho para me deixar adoçar assim de mansinho. Sound Chaser (9'25), arranha a improvisação e prima por ser o melhor momento do disco, a arena em que se desenrola o combate duro entre guitarras e teclados, excursionando juntos pelo jazz-rock adentro. To Be Over (9'08), justamente a fechar o disco, é uma grande canção de prog rock. Na capa, contracapa e interior, representa-se o estranho mundo gráfico de Roger Dean, pintado de desfiladeiros cavados na rocha, paisagens desoladoras com serpentes, grutas e pedras nuas. Por tudo isto, Relayer, o mais experimental e cósmico dos discos dos Yes, merece reaudição. Ainda hoje se ouve muito bem.

 


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