A semanada do Leonel
«O destaque da semana vai inevitavelmente para a segunda semana do Guimarães Jazz , para onde todos os olhares estão postos.
A cabeça de cartaz é, pois claro, a orquestra todinha de Maria Schneider (a genuína, a americana), no sábado, absolutamente obrigatório. Mas gostaria de chamar a atenção para a minha outra grande aposta, o concerto do histórico Dave Liebman que demonstrou no Coliseu de Lisboa há dois anos, ao lado de Michael Brecker e Joe Lovano, estar em perfeita forma. Aliás, em minha opinião, ele foi mesmo o responsável pela melhor prestação dos três grandes saxofonistas. O concerto de Lindner/ McHenry/ Avital/ Freedman é de certa forma uma incógnita, mas assistimos no Seixal a uma auspiciosa apresentação de Omer Avital (integrado no grupo de Kurt Rosenwinkel), o que nos leva a aguardar com expectativa também este concerto.
Da mesma forma também não conheço a cantora Katrine Madsen, mas a Danish Radio Orchestra é uma das mais prestigiadas da Europa e é uma garantia de qualidade. A Big Band da ESMAE será outro dos concertos a ter em atenção, atendendo até aos excelentes músicos que de lá vêm saindo.
Fora de Guimarães, na Casa da Música, no Porto, toca no Domingo 20 o trio de Ernst Reijseger, um exuberante e irreverente "cellista" (que curiosamente também já tocou em Guimarães).
A sul a atenção dirige-se para o "Canções e Fugas" de Mário Laginha na Culturgest. Incursão do pianista na música clássica, regresso às origens, música de fusão ou simplesmente música? De um dos nomes maiores da música portuguesa a fasquia é com certeza atirada para muito alto. Imperdível.
O Trio de Nuno Ferreira no Hot Club e o Quinteto de Laurent Filipe merecem também a deslocação e curioso, no mínimo, pode ser o sexteto de cordas liderado por Ernesto Rodrigues, na Trem Azul, a atirar para fora do jazz com certeza (no que Ernesto chama pomposamente de "Novas Músicas Improvisadas") e que conta com duas surpresas na formação.
Lamento, lamento mesmo não ter ido a Guimarães assistir ao concerto de um dos mais interessantes pianistas da nova geração, Jason Moran nem ao seu afronto com Ralph Alessi e ainda ao renovado Art Ensemble Of Chicago. Mas assisti na Culturgest ao concerto da New Art Orchestra de Bob Brookmeyer (que tinha tocado no dia anterior no Guimarães Jazz) que nos ofereceu um belíssimo espectáculo de Cool Jazz. Mas desenganou-se quem estava à espera de uma noite calma: as paisagens que a música de Brookmeyer desenha são verdadeiras paisagens feitas de vales e montanhas e árvores e pessoas e todo o tipo de acidentes das paisagens. Música bela mas enérgica, rigorosa, onde a escrita e a improvisação se interpenetram em absoluto, de forma natural (se pode ser natural uma música feita de artifícios). Solistas de grande calibre, a desmentir a origem europeia, onde destaco além de Dick Oates (creio que o único norte-americano além do líder e do baterista), o gigante Ruud Breuls em trompete, o excelente saxofonista/ clarinetista Oliver Eicht e as baquetas de John Holenbeck, verdadeira âncora da orquestra, sensível e enérgico». - Leonel Santos