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18.11.05
  Sexteto de Cordas, dirigido por Ernesto Rodrigues


A Trem Azul, prosseguindo a bem-aventurada série de concertos que tem vindo a promover ao fim da tarde (19h30) na sua Jazz Store, em Lisboa, acolheu desta vez a estreia mundial do Sexteto de Cordas, dirigido Ernesto Rodrigues. Além do violista e director, a formação inclui Manuel Mota, guitarra acústica; Pedro Costa, violino; Hernâni Faustino, contrabaixo; Eduardo Raum, harpa; e Guilherme Rodrigues, violoncelo.
Durante pouco mais de meia hora, o Sexteto executou duas peças de música delicadamente pontilhística, livremente improvisada, expressas num idioma que, se não totalmente familiar a todos os executantes, se apresentou de modo a fazer com que as diferentes partes se integrassem plenamente na progressão colectiva. Contrastes, dinâmicas vivas e boa gestão de intensidades, criaram uma interessante tapeçaria sonora de tonalidades escuras, como um drone que ia perdendo e adquirindo carga na sua sinuosa e elegante evolução.
Todavia, o mais cativante da performance foi a forma gentil e graciosa como se entrelaçaram as texturas criadas pelos diferentes cordofones, seguindo uma pulsão rítmica interna, irregular e assimétrica, tecida por uma infinidade de fragmentos melódicos, poalha recolhida e reposta em jogo pelo trabalho de sustentação da harpa e do contrabaixo. O resto foi o extravasar da enorme riqueza tímbrica das cordas, num set de música de câmara com muitas arestas, oscilações e inflexões de guitarra, violino, viola, violoncelo e contrabaixo, ligados entre si por uma corrente de energia criativa, para a qual contribuiram os protagonistas com o que têm: ideias próprias para o colectivo e instantâneo desenvolvimento musical.
Apesar da boa qualidade artística, vezes houve em que se notou algum desinvestimento na direcção musical, com os músicos ocasionalmente “aos papéis”, facto que é, simultaneamente, o mais difícil e o mais fácil de acontecer na improvisação livre – um género em que não há “papéis” e em que “andar aos papéis” é um dos riscos inerentes à prática musical sem rede –, controlo imediatamente retomado no ciclo seguinte, muito porque estes músicos souberam fazer uso do sentido de oportunidade, ouviram-se entre si e comunicaram quando sentiram que o momento era propício.
Pena é que o público do jazz não se interesse, despreze ou não esteja preparado para dar ouvidos a esta música, que é de muito boa vizinhança e interpenetração com aquele género, do qual não é, seguramente, nem degeneração nem abastardamento. Diferentes entre si, têm convivido pacificamente ao longo de décadas, com benefício estético para ambas as linguagens. Mas essas são contas de outro rosário. O que para aqui releva é que o Sexteto de Cordas apresentou ao público uma boa proposta musical, eloquente nos detalhes e delicada nas intersecções espontaneamente geradas. Ideal para apurar o ouvido e despertar a fantasia.

 


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