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14.11.05
  Sound On Survival, American Roadwork
Marco Eneidi, saxofonista da Bay Area de S. Francisco, reside actualmente na Europa. Na década de 80, estudou durante algum tempo com Jimmy Lyons. Com ele desenvolveu uma certa articulação e uma maneira característica de expor o freaseado, de deixar a frase em suspenso durante um curto intervalo e agarrá-la outra vez. Eneidi tem em comum com Lyons e com Sonny Simmons, outro mestre, além da rapidez e da tonalidade, o facto de contribuir para alargar o vocabulário do velho bop em direcção a formas de expressão e invenção menos idiomaticamente subsumíveis às linguagens daquele estilo. Tal como aprendeu uma certa espiritualidade com Glenn Spearman, antigo companheiro da G-force, Creative Music Orchestra, American Jungle Orchestra, e outras formações da Califórnia. E, claro, com o mestre da geração precedente, Ornette Coleman. Merece ainda comparação com outro grande artista do saxofone alto, Jemeel Moondoc, cujo som, aos meus ouvidos, tem mais em comum com o de Eneidi do que com qualquer outro do mesmo ofício.
Uma das mais recentes aparições de Marco Eneidi em disco, American Roadwork, com o trio Sound on Survival (Lisle Ellis, contrabaixo, e Peter Valsamis, bateria), encontra o saxofonista na sala de estar da família Rusch – a Spririt Room – no rancho de Bob Rusch, em Redwood, Nova Iorque, local onde é gravada a maioria das edições do catálogo Creative Improvised Music Projects (CIMP).
American Roadwork, gravação datada de Maio de 2004, é um disco intenso e imediato, que inclui uma série de títulos com a terminação blues, que, bem ouvidos, se revelam dessa natureza, embora mais no espírito e no balanço, que na forma. O trio Sound on Survival, rodado o mais que podia estar na altura (o produtor Rusch menciona o facto de, aos vinte e tantos dias precedentes ter correspondido um número idêntico de concertos; segundo Eneidi, a digressão compreendeu 32 concertos em 40 dias, percorrendo 16.000 quilómetros, o que é obra num estilo de jazz que está longe de motivar mais do que um punhado de gente em cada cidade). O que deu num entrosamento e numa fluidez impressionantes, e um nervo pouco frequente neste tipo de projectos de sopro e ritmo. O característico som seco da CIMP contribui para acentuar uma certa aspereza natural da tonalidade de Eneidi, característica que bem combina com o estilo melódico de Lisle Ellis e a percussão precisa e rendilhada de Peter Valsamis. Sound on Survival é um excelente trio, que eu muito gostaria de ver actuar em Portugal. E American Roadwork é um discaço de todo o tamanho.
Marco Eneidi vive actualmente em Nickelsdorf, cidade que fica a escassos 60 Kms de Viena, Áustria, a curta distância da frionteira com a Hungria. Um saltinho até Portugal talvez não fosse mal pensado, oportunidade para deixar de ser quase totalmente ignorado aqui no rectângulo. Para isso também pode contribuir a oportuna entrevista que Eneidi deu a Taran Sing, incansável divulgador europeu do free jazz, a ler em Francês ou em Inglês, respectivamente no Citizen Jazz e no All About Jazz.

 


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