Karlheinz Stockhausen em Lisboa
Domingo, 13 de Novembro, no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian, ouviram-se as peças Wednesday Greeting e Kontakte, de Karlheinz Stockhausen. Da segunda, uma das obras mais famosas do compositor e de toda a música electrónica, o compositor escolheu a versão exclusivamente electrónica. Esta resultou das experiências de projecção espacial realizadas em Colónia, nos anos 50, base a partir da qual Stockhausen se constituiu pioneiro de muitas dos principais avanços musicais surgidos no pós-Guerra, com especial incidência na música electrónica, na estatística musical e na música aleatória, trabalhando de forma inovadora sobre a projecção musical no espaço. Do serialismo de Webern e Messien, à música electrónica, passando pela música aleatória e, por fim, pela música de natureza mística, que marca sua produção desde a década de 70. Altura, desenvolvimento de escalas de timbres, tempo e intensidade do som, sofreram progressos e novas formulações às mãos do grande compositor alemão. Mais de 300 obras, inúmeros estudos musicais (entre eles, os afamados 10 volumes de escritos sobre música) e um amplo catálogo discográfico estão aí para testemunhar a importância de Stockhausen no desenvolvimento de novas formas e abordagens da música do Século XX. Wednestaday Greeting (1998) e Kontakte (1959-60) são trabalhos da actividade criativa do compositor alemão com electrónica de estúdio em estado puro (não há qualquer instrumentação acústica, excepto voz de soprano na primeira das composições), que o compositor apresentou em ambiente escuro (de luz, apenas uma pequena "lua" projectada ao fundo do auditório) e sem intérpretes ao vivo, em que as sonoridades concretas e electrónicas puras formam uma tessitura sonora que compatibiliza técnica e esteticamente as duas tendências. Em ambas as obras Stockhausen explora timbres, intervalos e velocidades, e a forma como o som se organiza no espaço, a partir das múltiplas trajectórias possíveis entre quatro pontos. Para melhor percepcionar estes efeitos, os espectactores foram convidados pelo compositor a sentarem-se ao centro da sala e a ouvir a música de olhos fechados, interagindo com os movimentos espaciais quadrifónicos, numa sensacional experiência auditiva geradora de atmosferas cósmicas e de fantásticas imagens abstractas.
Da esquerda para a direita: John Cage, Henk Badings, Mauricio Kagel, Earle Brown, Henri Pousseur, Luciano Berio, Marina Scriabine, Luc Ferrari, Pierre Schaeffer. Sentado: Karlheinz Stockhausen - Brussels World Fair, 1958.