Hannes Enzlberger - Songs to Anything That Moves
Aparentemente, não há como a editora alemã Between the Lines para valorizar o trabalho composição dos contrabaixistas de jazz. Há outras que o fazem, mas, como nenhuma outra, a BTL tem dado a alguns artistas deste instrumento espaço para criar e apresentar projectos. Primeiro, foram Peter Herbert e John Lindberg, cujas iniciativas a editora de Frankfurt acarinhou e soube projectar. Em 2002, foi a vez do contrabaixista e compositor vienense Hannes Enzlberger dar um ar da sua graça. Enzlberger formou um quarteto com Thomas Berghammer (trompete e fliscórnio), Oskar Aichinger (piano) e Hans Steiner (clarinete baixo), para elaborar sobre composições suas, inspiradas na música de Carla Bley. Mais concretamente, nos álbuns Escalator Over The Hill e Social Studies, cujas composições foram por Enzlberger estudadas e dissecadas, de forma a extrair-lhes a seiva com que o compositor haveria de animar a sua própria música. Por outras palavras, é esta ideia que Enzlberger faz sobressair nas notas que escreveu para Songs to Anything That Moves. «Carla Bley arrived in my life when I first started to take an interest in jazz, and has been there ever since», escreveu. A audição atenta revela um quarteto com fulgor interpretativo, que se equilibra ao longo da linha que separa (?) composição de improvisação, sem que se consiga perceber por onde se dá aquela aparente clivagem. O mesmo sucede de alguma forma no cosmos de Carla Bley, madrinha deste projecto de música centro europeia, temperado com o típico lirismo vienense, situado a meio caminho entre o cumprimento das regras do jazz, a que não obedece, e dos cânones da música clássica, que não reverencia.
Hannes Enzlberger - Songs to Anything That Moves (Between the Lines, 2002)