Winds of Manhattan
22 Set. 24h00
Patrick Brennan – Ao Vivo a solo no Luso Café (Bairro Alto, Lisboa)
Depois de um longo interregno nova-iorquino, Patrick Brennan regressou a todo o vapor tocando temas seus, visitando ainda Chronology de Ornette assim como dois temas de Monk. Logo no arranque do concerto, tecendo uma densa filigrana de polirrítmos, e obstinados ‘riffs’, Brennan fez surgir Chronology de forma inesperada do interior desse complexo emaranhado sónico; brilhante exercício de apropriação e incorporação da música alheia numa linguagem própria.
Depois deste aquecimento passou ao seu repertório, onde Backatcha (do CD Walk, Saunter, Ambles) resultou num momento de grande tensão dramática. Usando a mão para tapar a campânula do saxofone e baseando o som em efeitos sonoros na forma de tensas sequências de harmónicos, Brennan levou-nos numa viagem pelas raízes do jazz, onde a essência do trompete de Louis Armstrong esteve vivamente presente, carregada do grito contido de quem procura a libertação de todos os constrangimentos. Em Drums Not Bombs, do seu último registo para a CIMP com o mesmo nome, explorou uma elaborada arquitectura rítmica, onde, nos diversos silêncios, estava implícita a interacção com um conjunto de músicos virtuais.
O grande remate (não à baliza mas sim à mente do ouvinte) foi em Which Way What, tema emblemático do seu CD de autor, gravado em Lisboa em 1995, com Acácio Salero (bateria) e Rashiim Ausra-Sahu (contrabaixo). Patrick Brennan elevou o tema a novas alturas conseguindo emular de uma só vez o complexo arranjo para trio, a uma velocidade verdadeiramente estonteante. O seu velho Conn (um cadillac entre os saxofones) reverberou à altura das rigorosas exigências do mestre que regressa em plena forma. Os ares de Manhattan devem ser mesmo bons.
No final do concerto, uma sessão de improviso colectivo foi espontaneamente provocada pelo violonista Ernesto Rodrigues, contando com a participação de vários dos músicos presentes.
- Abdul Moimême