Discretamente, há tempos chegou pelo correio Be Music, Night, o novo disco do Chicago Tentet de Peter Brötzmann, proto-big band com que o soprador alemão tem vindo a trabalhar desde 1997. Relativamente às anteriores formulações do Tentet (The Chicago Octet/Tentet; Stone / Water; Short Visit To Nowhere; Broken English; Signs e Images), Be Music, Night apresenta um novo desenho conceptual sob a forma de suite em três partes, inspirada na poesia beat e surrealista de Kenneth Patchen, dita pelo actor Mike Pearson sobre fundo musical apropriado. Palavras como música, a voz um instrumento mais, com total prevalência do conjunto. Não quer isto dizer que a rapaziada não faça o gosto ao dedo aqui e ali, ai isso faz. Poderia lá ser de outra maneira, num viveiro em que habitam Mats Gustafsson, o primeiro a dar um ar da sua imensa graça, Fred Longberg-Holm, Ken Vandermark e outros seis garbosos mestres da improvisação actual. Houve entradas e saídas, Hamid Drake deu lugar a Paal Nielssen-Love, Mars Williams tirou uma sabática. A rotatividade do pessoal tem sido uma constante desde o início. Por ele passaram William Parker, Toshinori Kondo, Roy Campbell, Mangus Broo, Per Ake Holmlander ...
Be Music, Night é daqueles discos que permanecem opacos à primeira demão, do tipo que só se começa a revelar lá para a quarta ou quinta audições, assim que o nevoeiro começa a levantar e a descobrir o brilho dos metais em toda a linha. Sem exageros, Be Music, Night é vintage Brötzmann. Tem é que se lhe dar tempo para crescer. Voltarei a falar dele lá mais para a frente, quando amadurecer bem.
Brötzmann Chicago Tentet: Peter Brötzmann / Mats Gustafsson / Ken Vandermark / Joe McPhee / Jeb Bishop / Fred Lonberg-Holm / Kent Kessler / Paal Nilssen-Love / Michael Zerang / Mike Pearson.
Peter Brötzmann Chicago Tentet - Be Music, Night (Okka Disk, 2005)