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30.6.05
 
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De entre os recentes lançamentos da editora portuguesa Clean Feed - um conjunto de edições de se lhe tirar o chapéu, valha a verdade - The Whimbler, do Gerry Hemingway Quartet, é sobejamente merecedor de toda a atenção que lhe puder ser dada. Concentradamente, de preferência, para melhor apreender a riqueza dos detalhes.
Depois de ter tocado durante mais de uma dezena de anos no quarteto de Anthony Braxton, com Marilyn Crispell e Mark Dresser, é natural que para Gerry Hemingway este tipo de combo, em relação ao qual foi afinando um tipo de escrita versátil no aproveitamento da vasta gama de potencialidades expressivas do quadrilátero, constitua o veículo ideal para pôr em prática o seu ideário em matéria de composição e improvisação. Não admira, pois, que a mesma lógica de utilização racional de recursos tivesse já imperado no anterior Devils Paradise (CF010), oportunidade para Hemingway fazer alinhar o trombone de Ray Anderson, o sax tenor de Ellery Eskelin e o contrabaixo de Mark Dresser.
Mergulhando a fundo no som de Gerry Hemingway, Ellery Eskelin, Herb Robertson e Mark Hellias, há dois aspectos particularmente apelativos numa primeira audição, que se confirmam com as passagens subsequentes: a rara e especialíssima relação dos músicos entre si e com o espaço, e a forma como articuladamente engrenam em laboriosa produção de tempo. Em The Whimbler, uma profusão de pontos luminosos e cintilantes convivem com zonas recônditas em que predominam sombras de misteriosa envolvência, como projecções que se sucedem no cenário da nossa imaginação.
Há muito de telepático na forma como o quarteto articula o discurso colectivo com as intervenções individuais, sob a batuta de mestre Hemingway, cujas composições, cruzando diferentes estilos (free bop, funk, swing...), parecem ter sido escritas tendo em mente cada um dos participantes. A comparação com Devils paradise, uma vez mais, põe às claras esta intencionalidade, com reflexo imediato no modo como as quatro peças se encaixam umas nas outras à medida e interagem livremente como membros de um único e orgânico ser.
Não será exagerado dizer que o estado da arte da música improvisada moderna emergente do jazz desemboca aqui, a caminho de algo que se vai ciclicamente renovando pela mão de artistas da qualidade de Gerry Hemingway, Ellery Eskelin, Herb Robertson e Mark Hellias.
Seguramente, The Whimbler é uma das mais estimulantes edições do corrente ano e um dos melhores discos de sempre de Gerry Hemingway.
Gerry Hemingway Quartet - The Whimbler (Clean Feed, 2005)

 


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