Os dizeres da contracapa deixam adivinhar uma sessão ao vivo daquelas que o ouvinte fica com a pulga atrás da orelha imaginando a noitada que deve ter sido no Tonic, na noite de 7 de Abril de 2004. É que Kevin Norton, percussionista, vibrafonista e compositor, para o efeito, reuniu um quarteto all star, com o trompetista Dave Balou, companheiro habitual da pianista japonesa Satoko Fujii e do trompista Tom Varner; o saxofonista tenor originário de Tucson, Tony Malaby, e o contrabaixista John Lindberg, aluno de David Izenzon e de Dave Holland, membro fundador do String Trio of New York. Quatro magníficos artistas versados na arte de bem tocar em quaisquer contextos, do mais agressivo ao mais doce, do tradicional ao menos convencional. À imagem do líder e fundador, Kevin Norton, o Bauhaus Quartet privilegia a improvisação sobre sólidas estruturas pré-sugeridas, rampas de lançamento para o quarteto se alcandorar aos píncaros, assim valorizando substancialmente a escrita de Norton. É desta tensão dialética entre composição e improvisação que brota a energia e a imaginação criadora com que se esculpe Time-Space Modulator.
Malaby consegue aqui uma das suas melhores marcas de sempre. Basta ouvir o tema de abertura, Mother Tongue, para perceber que é ele o homem mais adiantado no terreno, seguido de perto por um Dave Balou empenhado em preencher espaços com pinceladas curtas e em trocar notas com Malaby num despique muito interessante de seguir.
O apoio à linha da frente beneficia da grande categoria técnica da dupla Norton-Lindberg, que cumpre os mais elevados padrões que se conhecem em matéria de interacção contrabaixo/bateria. É neles que reside o centro agitador da actividade criativa, e é a partir do impulso rítmico que se forma o contraponto saxofone tenor/trompete, e se desenha uma paisagem musical leve e desanuviada, despida de ornamentos. Bem ao estilo Bauhaus, que procura da melhor relação entre forma e função e entre forma e modo de produção. Este objectivo de simplificação perpassa por todas as 8 composições de Time-Space Modulator. Nelas, a criação abstracta é intencionalmente posta ao serviço da funcionalidade do quarteto, fazendo sobressair os aspectos pragmáticos da criação musical - o lado artesanal por excelência.
É seguindo este propósito que Kevin Norton, Dave Balou, Tony Malaby e John Lindberg, artesãos do instante musical, escolhem materiais, lançam as bases e, pedra sobre pedra, levantam as paredes de um belo e vistoso edifício de cor e som. Espantoso trabalho na sua concepção e execução.
Kevin Norton's Bauhaus Quartet - Time-Space Modulator (Barking Hoop, 2005)