Dia 3 de Junho, sexta-feira, no Jazz ao Centro - Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra / 2005», toca o quarteto de Michel Portal // Louis Sclavis // Sébastien Boisseau // Daniel Humair:
Chegou a vez de Coimbra receber a graça que é a música de Michel Portal e Louis Sclavis. E de Daniel Humair e Sébastien Boisseau. Quatro em um; um em quatro. Torna-se arriscado falar da têmpera desta gente sem cair no excesso de predicados e na facilidade encomiástica. Mas há riscos que se têm que correr, a bem da verdade. Porque, ter em casa um quarteto com este “peso”, não é coisa pouca. Michel Portal, clarinetes e saxofones. Louis Sclavis, clarinetes, saxofone soprano. Sébastien Boisseau, contrabaixo. Daniel Humair, bateria. Três deles são dos maiores músicos da história contemporânea do Jazz, todos com várias décadas de criação musical na cena europeia. Outro, mais jovem (1974) mas não menos apetrechado e talentoso, está a caminho de o ser. E Coimbra certamente confirmará o enorme potencial de S. Boisseau, reconhecendo nele o pleno direito de acompanhar com os maiores. Porque são mesmo os maiores. Vejamos:
Michel Portal, clarinetista, saxofonista, compositor para cinema, multifacetado improvisador francês. Com uma costela da música clássica (executante de obras de Mozart, Brahms, Schumann, e de compositores contemporâneos, como Luciano Berio, Pierre Boulez, Karlheinz Stockhausen, etc), apesar disso, o multi-instrumentista prefere interpretar a sua própria música, e, mais ainda, fazê-lo no exacto momento em que a cria, preferencialmente acompanhado de outros músicos que com ele estejam irmanados no mesmo espírito, poliglotas das mesmas linguagens musicais, como os que integram o quarteto que aporta a Coimbra, no âmbito dos Encontros Internacionais de Jazz/2005.
Louis Sclavis, clarinetista e saxofonista extraordinário, compositor de mérito, primeira escolha de Michel Portal que sobre ele exerceu a mais benéfica das influências e o ajudou a firmar a reputada craveira de mestre elegante da arte de tocar clarinete. Um dos músicos mais criativos da cena jazz europeia. Território para onde transportou múltiplas geografias musicais, de que é catalisador e difusor, sem perder a visão musical íntegra que equilibra a conta-corrente entre composição e improvisação.
Daniel Humair, suíço a viver em França desde os anos 50, é um colosso da música em geral e do jazz em particular. Modernista por vocação e baterista por escolha ou predestinação, Humair deixou marca profunda no que à bateria-jazz diz especificamente respeito. Dono de um som personalizado – uma forma única de trabalhar o tempo enquanto matéria-prima – a suas gestualidade e sonoridade possuem indiscutivelmente o sinal distintivo dos maiores da história do Jazz. São elas que justificam que, em palco, Humair seja o principal ponto de encontro dos olhos e os ouvidos da assistência. Está por todo o lado e faz-se ouvir, mesmo quando, não tocando, constrói os mais refinados e oportunos pedaços de silêncio.
Sébastien Boisseau, jovem contrabaixista francês, original no vocabulário e talentoso na invenção musical. Sem querer entrar em detalhes fastidiosos, diria apenas que o seu curriculum se torna evidente em função das companhias requisitantes, entre elas o Baby-Boom, quinteto de Daniel Humair; o Newdécaband, de Martial Solal; e também Bruno Chevillon, Kenny Wheeler, Lee Konitz, para citar apenas alguns dos que nele sabem encontrar, além da musicalidade, a excepcional qualidade de saber o impulsionar os acontecimentos, mantendo sempre a capacidade de inovar e a intensidade em toda a linha. Boisseau conhece de trás para a frente o papel do contrabaixista neste tipo de formações: ser o centro de uma máquina complexa e altamente sofisticada, que swinga e improvisa colectivamente a um nível de excelência.
Tal é a que ora se desvenda em Coimbra.