«Jazz ao Centro, Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra / 2005» - 2, 3 e 4 de Junho
Dia 2 de Junho, quinta-feira, o festival abre em grande com a formação do baterista norte-americano Lou Grassi, o Lou Grassi's Avanti Galoppi (Rob Brown, Herb Robertson, Ken Filiano e Lou Grassi).
Lou Grassi está de volta a Portugal. Regressa para uma apresentação nos Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra/2005. Desta feita, não com a sua PoBand, com a qual tem feito (re)brilhar estrelas do jazz de vanguarda de tempos passados, como Marshall Allen, John Tchicai e Joseph Jarman, mas com um grupo que, pese embora a sua recente formação, já se encontra plenamente rodado: o Avanti Galoppi.
Neste combo, ao lado do sensacional baterista de Nova Iorque, galopam Rob Brown, saxofone alto; Ken Filiano, contrabaixo; e Herb Robertson, trompete e corneta - o mesmo quarteto que em 2004 gravou o álbum homónimo para a editora norte-americana Creative Improvised Music Projects (CIMP), um programa estilisticamente diversificado em que todos os intervenientes contribuem com composições.
No início da carreira, Lou Grassi tocou em bandas de dixieland e de swing. No início dos anos 70 tomou parte em projectos liderados pelo trombonista Roswell Rudd. Teve no baterista Beaver Harris (1936-1991) o seu principal mentor artístico. Esta última colaboração, além de o fazer evoluir tecnicamente, ajudou a que, mais de uma década passada, tenha começado a ser reconhecido como acompanhante, e passado de primeira escolha a líder das suas próprias formações. Actualmente, Grassi possui uma extensa carreira discográfica em nome próprio, assente fundamentalmente nas gravações realizadas para a Cadence e para a CIMP.
Além de colaborações avulsas, Lou Grassi participa num quarteto com Burton Greene, Roy Campbell e Adam Lane, e ainda no trio de Gunter Hampel, com Perry Robinson; na NuBand, com Roy Campbell, Mark Whitecage e Joe Fonda, e no quinteto de William Gagliardi.
Quem acompanha, ainda que de longe, as movimentações do jazz actual fora dos círculos concêntricos do mainstream, não pode deixar de notar as ondas de agitação que se têm vindo a formar em torno destas quatro figuras cimeiras da improvisação moderna novaiorquina. Rob Brown é seguramente uma das vozes (ou a voz) mais activamente criativas do jazz contemporâneo, como líder e acompanhante.
É justo dizer que o mesmo sucede com Ken Filiano e Herb Robertson, que comungam da mesma característica: sendo músicos de enorme craveira técnica e artística - cada um deles mestre no seu instrumento - têm permanecido fora dos holofotes da indústria e da imprensa que dá cobertura aos acontecimentos relacionados com o jazz, facto que, contribuindo para uma menor difusão do seu trabalho, nada prejudica a importância estética e o valor artístico do quarteto.
A música do Avanti Gallopi combina aspectos melódicos previamente estabelecidos e swing moderno, com o desenho composicional de criação imediata, alternando improvisação estruturada e espontânea, solidamente ancorada numa base polirrítmica assegurada por Grassi e Filiano, que é tributária tanto do jazz no sentido comum do termo, como da improvisação livre.
Neste tipo de música, saber ouvir é tão ou mais importante que tocar. «Não se toca; ouve-se. E então tudo acontece» – disse Grassi em entrevista recente. É isso justamente que o líder instiga e a que quarteto corresponde na perfeição.
Mas o Avanti Galoppi trás consigo um aliciante adicional: será a primeira oportunidade de assistir em Portugal ao jogo de contrastes e aproximações entre Rob Brown e Herb Robertson, participantes de um colectivo em que todos semeiam, tratam e criam, para que o público possa colher em tempo real.
(Amanhã, antevisão do concerto de dia 3: Michel Portal/Louis Sclavis/Sebastien Boisseau/Daniel Humair).