Depois de 1982 não mais se ouviu uma nota musical em disco a Don Van Vliet (1941), o alter ego de Captain Beefheart. Dedicou-se por completo à pintura, à poesia e à filosofia, dizem, retirando-se com a mulher para alturas mais sossegadas do Norte da Califórnia. Lembro-me de ter ouvido a Magic Band na primeira metade dos anos 70, era eu um rapazinho, e da impressão que a voz e a música do bizarro personagem me deixou. Safe As Milk alternava com Trout Mask Replica, entremeado com os discos de Frank Zappa, o colega de escola de Van Vliet em Lancaster, Califórnia. Duas figuras para sempre ligadas no imaginário de milhões de admiradores. Para tanto nem teria sido necessário que tivesse havido a reunião magna de Filmore East, ou as passagens do Capitão por Bongo Fury e Hot Rats. John Peel disse um dia que, se havia algum génio no rock, ele seria com certeza Captain Beefheart. Não sei se sim, se não. Sei é que 30 anos passados sobre a altura em que travei conhecimento com a nbandas mágicas, ao ouvir a reedição conjunta dos dois álbuns de 1972, Spotlight Kid e Clear Spot – dois dos discos mais acessíveis do californiano – ainda me espanto com tudo isto. Por isto quero significar a modernidade da música e o canto de Beefheart; as guitarras psicadélicas são-franciscanas que contaminam blues, r&b e rock’n’roll, com impetuosas investidas ácidas; o humor sardónico, a poesia surreal e a loucura controlada que abundam por estas paragens. Acontece-me sempre isto com Captain Beefheart. I'm Gonna Booglarize You, diz ele. Ok, anda lá com isso, Don. One more time, please. Captain Beefheart & The Magic Band - Spotlight Kid e Clear Spot (Reprise, 1972)