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14.4.05
 
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Há músicos que parecem ter nascido para tocar em trio. James Finn assenta nesta categoria como uma luva. Tão bom a tocar como a ouvir, sabe repartir o espaço e o tempo com os companheiros; tem a noção precisa de quando deve entrar e sair de cena. Fá-lo de forma tão natural e equilibrada, que o ouvinte tem a sensação de pressentir os momentos em que o tenor se vai calar ou fazer ouvir. É como aqueles jogadores de futebol de quem se diz que jogam bem sem bola, que se sabem desmarcar e provocar alterações no plano de jogo, de quem se espera que surjam num determinado momento, sem que tenham necessidade de assumir permanente protagonismo.
Na verdade, impressiona ouvir este saxofonista de ascendência italo-irlandesa, nascido em Nova Iorque. Distracção minha, só o conheço de um dos dois discos anteriores, Faith in a Seed, editado pela CIMP (a formação é mesma de Plaza de Toros), tendo passado ao lado de Opening the Gates (CJR), disco de estreia como líder, um e outro publicados em 2004 e produzidos por Bob Rusch. Se não conheço melhor James Finn não foi por falta de aviso para lhe prestar atenção, que me chegou de vários pontos. Mérito tem o patrão da Cadence, que tanto é capaz de contratar artistas consagrados e veteranos das áreas menos expostas do jazz, como de perceber o potencial de determinado músico em emergência, mesmo que Finn não seja já um debutante enquanto saxofonista.
Que há de especial a respeito deste músico? Várias coisas. Desde logo e à cabeça, o timbre claro e límpido do seu saxofone, reforçado por um vibrato e uma coloratura pouco usuais. Lembra-me o melhor David Murray, semelhante no pulmão e na paixão com que toca, porventura menos expressivo e elaborado no discurso, mas menos "palavroso" e mais intenso. A mesma mestria, lirismo e delicadeza, com forte sentido rítmico e imaginação a rodos em todos os registos.
Finn sozinho compôs, arranjou, produziu, gravou, misturou e masterizou os nove temas de Plaza de Toros no estúdio que criou de raiz. «Quis ter controlo sobre todas as fases da manufactura de um disco, de maneira a melhor produzir a minha música» – disse. Talvez por isso a música de Plaza de Toros que beneficie de maior estruturação e coerência temática que Faith in a Seed.
Preferindo o registo médio no saxofone tenor, Finn dá imensa luta aos três - Dominic Duval, Warren Smith e a mim próprio, que me deleito à sombra desta alegoria sobre a arte do toureio, ritual tão antigo quanto o homem. Finn, Duval e Smith oferecem música que conjuga força e doçura, capaz de exprimir uma variedade de estados emocionais, da dor e solidão, à celebração da vida e da alegria de estar vivo. Destreza, agilidade, coragem e valentia ao sol, na praça de touros, onde se joga o grande desafio.
James Finn Trio - Plaza de Toros (Clean Feed, 2005)

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