A respeito deste disco tive uma das primeiras e mais acesas discussões musicais que se podem ter na adolescência. Em confronto, duas posições inabaláveis com este tópico de partida: James Blood Ulmer (que bem que soava e soa este nome!) é muito bom guitarrista, um "génio", vs. James Blood Ulmer é uma fraude, um imitador de Jimi Hendrix, etc. A causa mais próxima era Tales of Captain Black, a preciosa cassete gravada da rádio a partir de um programa em FM Stereo que passava LP’s na íntegra para gáudio dos putos que não tinham outra forma de chegar à música em 1978. Passei anos a imaginar como seria a capa do disco e quem tocaria além do grande James. Só anos mais tarde soube que aquele saxofone era um sax alto; que quem o tocava era Ornette Coleman (para o caso, tanto fazia que fosse ele ou outro); que Jamaaladeen Tacuma era o nome (esquisito...) do baixista, e que o baterista devia ser parente do saxofonista, porque além do nome próprio Denardo, tinha Coleman como apelido.
Muito mais tarde ainda vi a capa pela primeira vez (aquela mesma que está lá em cima, mas em tamanho vinílico, bem entendido). Há dias, por acaso, deparei-me com o CD num saldo, no meio de pilhas de discos de rock, quase a querer passar despercebido. Não reconheci a capa, muito diferente da do LP original. Fantástico flash back de 27 anos! Escusado seria dizer que o trouxe comigo.
A edição em CD é da japonesa DIW. Factos novos para mim: não sabia que Tales of Captain Black tinha sido o primeiro disco de James Blood Ulmer, descontando a anterior edição europeia de Revealing, que nada tem que ver com aquele na forma e na substância, e com o qual Tales rompe esteticamente; quem produziu o disco foi Ornette Coleman, o homem do sax alto - factos que me seriam indiferentes e sem significado em 1978, mas que hoje fazem sentido e ajudam a explicar o tremendo disco que Tales of Captain Black é. Conheci entretanto várias outras coisas de James Ulmer. Mas este disco é inultrapassável no drive incessante e no tecer frenético da malha apertada que suporta o alto de Ornette, permanentemente acossado pelo quase uníssono do baixo eléctrico e da bateria. Não há disco como o primeiro. Mais do que só a guitarra e o baixo, este disco é todo ele eléctrico, carregado das ideias harmolódicas de mestre Ornette. E, neste caso, o pretérito é quase perfeito.
James Blood Ulmer - Tales of Captain Black (DIW)