Improvisar no fio da navalha. Tocar sem rede e pré-definição de composições que garantam conforto e segurança. Não é fácil. Fazê-lo bem e com resultados como os que se ouvem em Motion, ainda menos. Rodrigo Amado (saxofones barítono e tenor; produção), Steve Adams (saxofones tenor e sopranino), Ken Filiano (contrabaixo) e Acácio Salero (bateria), depois de uma prestação ao vivo no festival Jazz em Agosto de 2002, foram para estúdio no dia seguinte e lançaram fogo à peça, sob a designação LIP – Lisbon Improvisation Players. LIP é um colectivo de composição e geometria variáveis, aqui em episódica versão luso‑americana, que bem assimilou a estratégia apreender e libertar sons coerentes no exacto momento em que são colectivamente gerados. Rodrigo Amado tem vindo a fazer um percurso deveras impressionante, a nível técnico e artístico, tanto no saxofone barítono, como no tenor. É, na actualidade, um dos nomes mais importantes do saxofone em Portugal. Nota-se que presença de Steve Adams - veterano saxofonista do Rova Saxophone Quartet (sopranino e tenor), que traz consigo atitude e voz compatíveis com as de Rodrigo Amado - serviu de estímulo recíproco, patente no interessante diálogo que mantêm ao logo do disco, numa envolvência que abraça um certo conceito de tradição, mas que não se acomoda a percorrer caminhos demasiado sulcados; antes se atreve no incessante trilhar do desconhecido.
A equipa rítimca é de idêntico gabarito, servida por Ken Filiano, com o seu som maleável, extremamente plástico, e por Acácio Salero, sóbrio e eficaz no colocar das cargas de profundidade em descontínuo rítmico, exuberante no detalhe, como no grande plano.
Quatro artistas com visão prospectiva e de conjunto, metidos ao trabalho de produzir música de grande densidade, profundamente tocante e susceptível de agradar aos cultores do jazz e da livre-improvisação.
Lisbon Improvisation Players
Motion
(Clean Feed)