Mars Williams, saxofonista de Chicago, é um dos meus artistas preferidos.
Fui encontrá-lo há uns anos a tocar com Hal Russell, no NRG Ensemble. Foi no princípio dos 90, quando me acerquei do NRG e me deixei conquistar pela magnitude e pelo poder arrebatador da música de Hal Russel. Mas havia outro soprador ao lado de Russell que teimava em se afirmar e não se deixar ficar para trás: Mars Williams, ele próprio.
Quem o conhece não me desmente: Mars dá-lhe com gana, com quanta tem. Não procura arredondar arestas nem adocicar a música com produções “atmosféricas” para agradar ao avô e ao neto – o mais que para aí se ouve.
É assim Mars Williams: não o convidem para alindar a paisagem ou encher chouriços com material supérfluo. Diz o que tem a dizer, alto e bom som, estrilha, grita, distorce, mas só quando sente necessidade de acentuar o que tem para dizer. Sublinhados à sua maneira, no fundo. Com ele “é tudo em cru”, da mesma maneira que se faz um bom cozido à portuguesa.
Os melhores dos seus pares convocam-no. No passado recente, Hal Russell; no presente, Ken Vandermark e Peter Brötzmann, quando precisam de tempero forte e muita cor para as suas criações. Os três convivem em grande festa improv no Peter Brötzmann Chicago Tentet.
Mas Mars Williams tem os seus próprios projectos, entre os quais destacaria o XMARSX (o “Mars” entre dois X é o outro X que falta para a classificação porno. Não vai tão longe, convenhamos, mas fica a ideia de transgressão…).
Em XMARSX, Mars dá largas à sua ampla veia rock-noise-improv-funk-jazz-punk, à falta de melhor categorização. Carradas de energia oriunda de múltiplas fontes. Gosto disto, como se supõe gostar quem igualmente se interesse por funk ou rock em geral. Não é jazz, não é funk, não é rock, não é… dirão os puros. Mas é tudo isso - o todo maior que a soma das partes.
Com Mars, debatem-se galhardamente o guitarrista Greg Suran (Goo Goo Dolls, Blue Man Group, Slam), o baterista Dave Suycott (Machines Of Loving Grace, Stabbing Westward, Slam), o contrabaixista Kent Kessler (Vandermark 5, NRG Ensemble, Peter Brötzmann Tentet) e o violoncelista Fred Longberg-Holm (Terminal 4, Witches & Devils, NRG, Peter Brötzmann Tentet). Mais que isto é ouvir o que Mars e Companhia têm para contar.
posted by eduardo chagas
@ 10.10.04