Ornette roubou a melodia ao jazz? É hoje geralmente tido como uma referência histórica do que se convencionou designar por Free Jazz: o aparecimento do quarteto de Ornette Coleman (Don Cherry, Charly Haden e Billy Higgins) no Five Spot Café, de Nova Iorque, no outono de 1959, para uma residência de duas semanas.
Era o tempo de Tomorrow Is The Question! (Contemporary), a que se seguiu um contrato de gravação com a Atlantic Records, que daria origem a uma série de sete discos importantes, de que se destaca o seminal Free Jazz(A Collective Improvisation), para duplo quarteto, gravado em 1960.
1959 foi um ano charneira na evolução do género. Terminava o período de ouro de Billie Holiday, Lester Young, Sidney Bechet e outros grandes clássicos. Em Nova Iorque, o centro do universo do jazz, Mingus gravava Blues & Roots e Mingus Ah Um, duas obras-primas do jazz moderno; Coltrane gravava Giant Steps e Miles Davis, Kind of Blue, paradigma do modalismo no jazz. Só por estes desenvolvimentos, que são outros tantos marcos fundamentais, 1959 já seria um ano vintage. Mas foi com Coleman que se naquele ano se deu a revolução na estrutura harmónica do jazz. 1959 foi, assim, um momento da máxima relevância, porque a partir daí o jazz nunca mais voltou a ser o mesmo. A revolução estava na rua, como já havia acontecido nas épocas de Louis Armstrong e de Charlie Parker.
É este o ponto de partida do ensaio de Robert Levin, ex-redactor do jornal Village Voice e da revista Rolling Stone.