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17.10.04
  Holy Ghost, Albert Ayler

Ontem ao fim da tarde passei na ananana e fui direitinho ao Holy Ghost, Albert Ayler. A “caixa negra do avião” (e que Avião!), como já é conhecida aqui em casa. Pudera, o paralelepípedo, de consideráveis dimensões, é puro azeviche...
Ouvi os dois primeiros discos. Enorme satisfação. Entro nas ondas de Ayler que é um disparate. Hoje, no footing matinal à beira-mar, munido do oportuno walkman, deu para aprofundar as primeiras impressões do dia anterior. Ayler pela manhã é como uma brisa marítima. Dá saúde e faz crescer.
A edição é um mimo. Os discos (9+1), o livro, as réplicas dos folhetos da época, a flor seca... (Flowers for Albert).
A qualidade sonora, como era de esperar em “raridades e inéditos”, está a léguas dos padrões actuais. Quero lá saber! Quem procurar som do tipo ECM, ou com uns bons furos abaixo, bem pode tirar daqui o sentido. De contrário, sentirá um baque ao ouvir os tremeliques, as falhas de canal, os altos e baixos de um gravação para outra, enfim, o que para uns são defeitos perturbadores e incapacitantes, e para outros simples marcas do tempo, que se integram harmoniosamente na paisagem sonora. Porque o tempo passa e deixa marcas. E o som não nasceu digital.

A música – o que realmente conta – é excepcional.

"Revenant's design team has outdone itself with Holy Ghost; the imagination, effort, and sheer fetishistic music-collector insanity that went into this thing are staggering. ...This set is not for the casual listener. But if you're ready for total immersion, Holy Ghost is essential--don't even wait for Christmas", leio e concordo com a Signal To Noise, edição Fall 2004.

"Um dos aspectos que ressalta na música de Albert Ayler é a visível bondade e pureza do homem. De uma certa forma há toda uma credibilidade que não é conferida a Ayler devido a alguma da música que produziu na segunda metade da década de sessenta. Mary Parks, sua esposa na altura, terá sugerido que já que o seu marido queria canalizar energia, ideias, imagens e sentir para outros, comunicar uma mensagem de liberdade, quantos mais o ouvissem melhor seria, mas que para isso concessões teriam que ser feitas. O álbum de canções e da tentativa de ligação às modas e ao público de Ayler, «New Grass» (do qual aqui se encontram «outtakes»), permanece um caso único, do qual se rapidamente redimiu no ano seguinte com «Music Is The Healing Force Of The Universe», 1969. A morte de Ayler no ano seguinte por afogamento no nova-iorquino Rio Hudson permanece envolta em mistério, surgindo numa altura em que encontrava um ressurgimento de energia e criatividade, parecendo em paz com as coisas após anos de turbulência.Para trás, ficou praticamente uma década de alguma da música mais livre, idiossincrática, bela e maior passível de ser conhecida. Das gravações dos primeiros anos dos sessentas ainda estacionado com o exército norte-americano na Escandinávia, tocando com músicos que, lata forma, estavam a milhas daquilo que Ayler tinha para expressar. Da sua ida para Nova Iorque onde finalmente encontrou outros criadores com quem comunicar no mesmo plano, gravando clássicos do free como «Spiritual Unity», «Live At Greenwich Village» ou «Spirits Rejoice». Da compreensão intercontinental que veio a encontrar na Europa, com numerosas actuações (e vários registos) ao vivo na parte central do continente. Até Don Cherry, Gary Peacock, Sonny Murray, Beaver Harris, Cal Cobbs, Henry Grimes, Milford Graves, Michel Samson, Roswell Rudd, Donald Ayler, Alan Silva e tantos outros que puderam ser ouvidos a tocar com Ayler, por tudo o que dele aprenderam e lhe ensinaram". - ananana
 


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