«(...) O certo é que o octeto POTLATCH se situa em Live at Fábrica Braço de Prata (edição pela “netlabel” Insubordinations) entre o free jazz e a free music. Quando adivinhamos o legado de Ornette Coleman na sonoridade e na não-hierarquização dos papéis instrumentais, surgem sem aviso situações de total e abstracto desconstrucionismo, com parasitagens eléctricas (a guitarra de Guilherme Leal) e electrónicas (os dispositivos de Nuno Lima), uma base percussiva de grande densidade, ora virada para a pulsação, ora para o desenvolvimento de texturas (a bateria de Luís Desirat e os objectos de Monsieur Trinité), e uma sólida, mesmo quando discreta e colocada ao serviço do conjunto, elaboração harmónica, garantida em permanência pelo piano (Filipe de Sousa) e muito frequentemente pelo contrabaixo (Pedro Roxo), não se limitando este, pois, a funções rítmicas. São duas abordagens distintas da improvisação que assim se conjugam, uma ligada à herança afro-americana, a outra de cunho europeu e menos codificada. À “boca de cena” estão os saxofones (Jorge Lampreia no soprano, aqui ou ali dobrando em flauta, e José Lencastre no alto), responsáveis maiores pelas conotações com o que se vai entendendo como jazz. Tal entrar e sair de formatações e tal escarafunchar das fendas entre dois mundos contíguos é o que faz as delícias deste projecto que joga com alinhamentos e rupturas, reavivando por meio do seu próprio questionamento as premissas leftfield (...)» - Rui Eduardo Paes.